Vocabulário do coração – parte 2

Vocabulário do coração: descubra o significado de termos e palavras importantes inseridos no universo cardiovascular

 

O sistema cardiovascular, composto pelo coração e vasos sanguíneos, é responsável por manter nosso corpo em pleno funcionamento ao transportar oxigênio e nutrientes para cada célula do organismo. No entanto, uma série de fatores e condições pode comprometer esse mecanismo vital.

 

Entender os termos relacionados a essas questões é o primeiro passo para manter os cuidados básicos e a prevenção de doenças. Neste texto, vamos explorar de forma clara e resumida o significado de palavras como arteriosclerose, isquemia, angina, infarto e outras, oferecendo um guia para quem deseja compreender melhor a saúde do coração e sinais de alerta que não podem ser ignorados.

 

– Arteriosclerose e aterosclerose: apesar de palavras muitos semelhantes, elas têm significados diferentes. A arteriosclerose é o termo mais amplo, que se refere ao processo de endurecimento e espessamento das paredes das artérias, que pode ser provocado por diversos fatores, como envelhecimento, diabetes, lesões e inflamações crônicas, tabagismo, pressão, colesterol e triglicerídeos elevados, resistência à insulina e obesidade.

 

Já a aterosclerose é uma forma específica de arteriosclerose, caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura, colesterol e outras substâncias, no caso do coração, nas paredes interna dos vasos que irrigam o órgão, as artérias coronárias. Quadro que leva à obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo – esse cenário tem como possível consequência problemas a exemplo do infarto do miocárdio.

 

– Isquemia: é a diminuição do fluxo sanguíneo para um órgão ou tecido, incluindo o coração, em geral devido a um bloqueio nas artérias que o irrigam. Pode causar danos ao tecido devido à falta de oxigênio e nutrientes.

 

A isquemia cardíaca (também chamada de doença cardíaca isquêmica e doença arterial coronariana ou coronária) é, portanto, a diminuição do fluxo de sangue rico em oxigênio para o miocárdio (o músculo cardíaco), desencadeando sintomas como dor e sensação de queimação no peito, palpitação, falta de ar e mal estar.

 

Essa condição ocorre, na maioria das vezes, por obstruções nas coronárias, resultado da aterosclerose, de espasmos das artérias (contrações temporárias capazes de reduzir o fluxo de sangue) ou por coágulos sanguíneos.

 

– Angina: é o nome dado a dor, desconforto, pressão, ardor ou aperto na região do peito causada pela redução temporária do fluxo sanguíneo para o músculo cardíaco. A angina de peito (ou pectoris) é, assim, um provável alerta de que o coração não está sendo oxigenado como deveria.

 

Muitos relacionam a angina diretamente ao infarto agudo do miocárdio. O que nem todo mundo sabe, no entanto, é que ela pode ou não remeter ao quadro. Ambos são processos distintos.

 

Isso porque é possível que a angina seja consequência da doença arterial coronária ou se manifeste a partir de outras complicações que afetam o coração, entre elas a embolia, vasculite, dissecção coronariana, arritmias, estenose valvar aórtica ou sub-aórtica e síndrome do prolapso da valva mitral. O tempo de duração, a intensidade da dor e a combinação com outros fatores e sintomas vão caracterizar a angina e revelar sua razão.

 

– Insuficiência cardíaca: condição que, conforme o próprio nome já diz, se estabelece quando o músculo cardíaco trabalha de modo insuficiente e não tem força para bombear e distribuir o sangue com a pressão necessária para atender às demandas do organismo.

 

Normalmente, é resultado de múltiplos de fatores, como idade, hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, histórico familiar, níveis altos de colesterol, doença de Chagas ou por causa de um tratamento oncológico. Complicações cardiovasculares também entram nesse grupo, entre eles os distúrbios de ritmo cardíaco, alterações congênitas ou adquiridas nas valvas cardíacas, miocardite, danos ou disfunções nos ventrículos e a doença arterial coronariana.

 

A insuficiência cardíaca (ou insuficiência cardíaca congestiva) é considerada um problema crônico e progressivo. Porém, em alguns casos, é possível que ocorra de forma súbita, com necessidade de atendimento médico imediato.

 

– Cardiomiopatia: é um tipo de doença que afeta o músculo cardíaco, alterando sua capacidade de bombear sangue de maneira eficiente. Dependendo da cardiomiopatia, o coração pode se tornar mais espesso, rígido ou dilatado, o que compromete seu funcionamento. As cardiomiopatias são hereditárias ou adquiridas devido a outras condições, como hipertensão, infecções virais, alcoolismo ou uso prolongado de certos medicamentos.

 

Entre as mais comuns: a cardiomiopatia dilatada (o ventrículo esquerdo se dilata e enfraquece); cardiomiopatia hipertrófica (espessamento anormal do miocárdio); cardiomiopatia restritiva (as paredes do coração se tornam rígidas, dificultando o enchimento adequado das câmaras cardíacas) e a cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito (o miocárdio é substituído por tecido fibroso ou gorduroso, principalmente no ventrículo direito, podendo ocasionar arritmias).

 

– Miocardite: termo que se refere à inflamação do miocárdio. A miocardite pode comprometer a capacidade do coração em bombear sangue e provocar arritmias. Embora a causa mais frequente seja uma infecção viral, é possível que a doença seja desencadeada também por reações autoimunes, infecções bacterianas, medicamentos ou toxinas.

 

– Hipertrofia cardíaca: condição que se caracteriza pelo aumento anormal do músculo cardíaco, mais especificamente das paredes do coração, em geral devido a um esforço excessivo que o órgão precisa realizar para bombear o sangue. Embora o coração, em um primeiro momento, se adapte a esse esforço adicional, a hipertrofia chega a levar a problemas sérios, como insuficiência cardíaca e arritmias, se não for tratada.

 

Existem dois tipos principais de hipertrofia cardíaca: a hipertrofia ventricular esquerda (acontece no ventrículo esquerdo, a principal câmara responsável por bombear sangue oxigenado para todo o corpo) e a hipertrofia ventricular direita (se manifesta no ventrículo direito, responsável por bombear o sangue desoxigenado para os pulmões).

 

As causas mais comuns incluem condições genéticas (entre elas a cardiomiopatia hipertrófica), doenças pulmonares crônicas, doenças valvares (como estenose aórtica ou estreitamento da valva aórtica), pressão alta (quando a pressão fica elevada, o órgão precisa trabalhar mais para vencer a resistência nas artérias) e até exercício físico intenso (ocorre em boa parte dos casos como uma adaptação saudável e necessária em atletas que praticam atividades de alta intensidade, como maratonistas ou levantadores de peso).

 

– Sopro cardíaco: é um som anormal ouvido durante um exame clínico, em geral com o estetoscópio, e se manifesta devido ao fluxo sanguíneo turbulento ou acelerado nas câmaras ou valvas cardíacas. Embora possa ser um sinal de uma anomalia, muitas vezes os sopros são inofensivos (sopro funcional, inocente ou fisiológico) e não indicam questões sérias.

 

Entretanto, alguns sopros (sopro anormal ou patológico) podem estar associados a um problema estrutural no coração e doenças subjacentes (condições como valvulopatias, defeitos cardíacos congênitos ou endocardite) que requerem acompanhamento médico.

 

– Arritmia: o músculo cardíaco funciona como uma bomba, mantendo um ritmo de contração e relaxamento contínuo, medido por minuto, o que chamamos de frequência cardíaca. Qualquer alteração nesses batimentos (rápido, lento ou irregular) é chamada de arritmia. Em condições normais de saúde e sem estímulos, nossa frequência varia de 60 a 80 batimentos por minuto. Entre as crianças esse número fica em torno de 120 a 140/minuto.

 

Quando o ritmo sai dessa faixa considerada ideal, dizemos que o coração está com uma arritmia. De modo geral, elas são agrupadas pela velocidade: uma frequência acelerada, com ritmo superior a 100 pulsações por minuto, recebe o nome de taquicardia. Já se os batimentos ficam lentos e passam a menos de 60/minuto, falamos em bradicardia.

 

A frequência pode mudar naturalmente, por exemplo, durante a prática de exercícios, em estado de vigília e sono, em situações de muito calor ou frio ou ao passarmos por uma situação de estresse. Entretanto, é possível que isso ocorra por uma doença ou disfunção – na maioria dos casos, associada a mudanças na estrutura cardíaca, um distúrbio ou alteração no sistema elétrico do coração.

 

– Fibrilação atrial: tipo mais comum de arritmia onde as câmaras superiores do coração (átrios) batem de forma rápida e irregular, portanto, é classificada como uma taquicardia. A condição pode ser temporária, mas alguns episódios permanecem a menos que sejam tratados (em uma unidade de emergência com medicamentos ou cardioversão elétrica (choque) para reversão dessa arritmia). A fibrilação atrial está associada a complicações graves, a exemplo do acidente vascular cerebral (AVC).

 

– Infarto do miocárdio: também conhecido como ataque cardíaco, o infarto agudo do miocárdio ocorre quando o fluxo sanguíneo para uma parte do músculo cardíaco é interrompido, resultando em danos e até no processo de necrose da musculatura do coração devido à falta de oxigênio, com chances de arritmia grave, disfunção do órgão e até a morte.

 

O infarto, na maior parte dos casos, acontece por conta de uma isquemia cardíaca. O problema se desenvolve diante da presença dos fatores de risco acima relatados, mas o grau de obstrução varia de acordo com cada caso, assim como os sintomas, que são diferentes de pessoa para pessoa. De maneira geral, obstruções de mais de 70% nas coronárias tem como principal indício a angina.

 

Outros sinais são: falta de ar, fadiga extrema durante o esforço, dor no ombro, braço ou mandíbula. Porém, nem sempre isso ocorre. O quadro pode se desenvolver ao longo de anos de forma progressiva e silenciosa, o que aumenta a probabilidade de o ataque ser fulminante.

 

– Acidente vascular cerebral (AVC): popularmente chamado de derrame, o acidente vascular cerebral acontece se o fluxo sanguíneo para uma parte do cérebro é interrompido, acarretando em danos ao tecido cerebral devido à falta de oxigênio. Tal qual o infarto, o AVC é uma emergência e, quanto mais rápido o tratamento, mais elevadas são as chances de recuperação e menores os danos permanentes.

 

Existem dois tipos principais: o isquêmico e o hemorrágico. O isquêmico é o tipo mais comum, representando cerca de 85% dos casos. Ocorre quando há um bloqueio ou estreitamento de uma artéria cerebral, impedindo o fluxo de sangue para uma parte do cérebro. O hemorrágico, por sua vez, surge à medida que um vaso na região se rompe, originando, conforme o nome já diz, uma hemorragia, e danos às células.

 

Também conhecido como “mini AVC”, o ataque isquêmico transitório (AIT) é um bloqueio temporário no fluxo sanguíneo cerebral. Os sintomas são semelhantes aos de um AVC, mas desaparecem em minutos ou horas sem levar a danos permanentes. O AIT deve ser visto como um sinal de alerta, pois indica um risco elevado de um acidente vascular no futuro.

 

Entre as causas mais frequentes do AVC, estão a trombose (formação de coágulo em uma artéria do cérebro, geralmente associada à aterosclerose), embolia (coágulo formado em outra parte do corpo, como o coração, que se desloca e bloqueia uma artéria cerebral), aneurisma (área enfraquecida na parede de um vaso que se dilata e rompe) e malformações arteriovenosas.