Burnout

Do esgotamento ao infarto: quando o burnout deixa de ser psicológico e vira risco real para o coração?

 

Você sente que nunca descansa, mesmo depois de uma noite de sono? Que tarefas simples se tornam constantemente exaustivas? A irritação é frequente? Esses sinais podem parecer apenas estresse do dia a dia, mas quando se prolongam, apontam para algo mais sério: o burnout. Muito além do esgotamento emocional, ele é um estado de estresse crônico que deixa o corpo em alerta permanente, e o coração, em risco.

 

Do que estamos falando

A síndrome de burnout (ou síndrome do esgotamento profissional) é um termo usado para explicar um quadro de colapso físico e mental, o estresse em seu grau mais intenso, em decorrência de um cenário de pressão excessiva no trabalho.

 

Isso inclui, por exemplo, longas jornadas com ausência de intervalos e períodos de descanso, acúmulo de funções e responsabilidades, cobranças e demandas acima do previsto, assédio moral e falta de reconhecimento.

 

E, apesar de não ser considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença ou condição médica, o burnout é reconhecido pela entidade como um fator que interfere e prejudica a saúde, inclusive do coração.

 

O caminho do estresse até o coração

O burnout, portanto, não afeta apenas a mente. Sob pressão constante, o corpo libera hormônios, entre eles o cortisol e a adrenalina, ficando em estado de “luta ou fuga” o tempo todo. Essa resposta aumenta a frequência cardíaca, eleva a pressão arterial e provoca inflamação nos vasos sanguíneos.

 

Com o tempo, esses efeitos sobrecarregam o sistema cardiovascular, tornando-o mais vulnerável a hipertensão arterial, arritmias e até infartos. É o desgaste emocional se tornando físico, sem avisos claros — até que os sintomas aparecem.

 

Sinais que não podem ser ignorados

O corpo percorre um longo caminho antes de chegar ao burnout e costuma dar indícios de que algo não vai bem para evitar um colapso. É preciso ficar atento. Muitas pessoas confundem palpitações, coração acelerado, arritmias ou pressão alta persistente com ansiedade passageira.

 

Esses sintomas, especialmente quando aparecem juntos ou com frequência, indicam, entretanto, que o burnout pode estar afetando o coração. Sensação de cansaço extremo mesmo após repouso, dor ou aperto no peito e alterações no ritmo cardíaco são alguns alertas do organismo pedindo socorro.

 

Como o esgotamento muda a rotina

O burnout também costuma provocar mudanças nos hábitos, como sono irregular, alimentação desequilibrada e falta de exercícios, elevando ainda mais o risco cardiovascular. Além disso, é comum surgir: desânimo, desejo de se isolar, sensibilidade a ruídos sonoros, dores pelo corpo e de cabeça, tremores, problemas gastrointestinais, falta ou excesso de apetite, dificuldade de concentração e irritabilidade.

 

Com o tempo, pode ocorrer declínio da produtividade, presença de baixa autoestima e mudanças bruscas de humor. A sensação é de falta de energia e de recursos emocionais para lidar com as situações do cotidiano, intensificando um sentimento de incapacidade e insuficiência. A tendência é o desenvolvimento da depressão.

 

O corpo reage criando um ciclo perigoso: quanto mais sobrecarga emocional, mais comprometidos ficam os hábitos essenciais à saúde. Por isso, reconhecer esse cenário cedo pode permitir o diagnóstico e o tratamento precoces, evitando o agravamento do quadro e consequências mais sérias.

 

O impacto do burnout no coração

O burnout aumenta significativamente o risco de inflamação sistêmica, alterações na coagulação, obesidade, aumento do colesterol ruim (LDL), dos níveis de glicose, de triglicerídeos e da proteína C reativa, hipertensão, arritmias, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca e infarto do miocárdio.

 

Prevenção e cuidado diário

Neste 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, o lembrete é claro: cuidar da mente é cuidar do coração. Observar os sinais, agir rapidamente e valorizar o autocuidado transforma a sobrecarga emocional em prevenção concreta.

 

Buscar apoio psicológico, reservar momentos de descanso, praticar exercícios físicos e técnicas de respiração, manter uma alimentação equilibrada e estabelecer limites na rotina são ações concretas para reduzir o impacto do burnout. Equilíbrio emocional não é luxo, é proteção real para o coração e para a vida.