
Efeito sanfona e a saúde do coração: os riscos ocultos das dietas radicais
Perder peso rapidamente pode parecer uma vitória. Mas e quando os quilos voltam? E depois somem de novo? E retornam e desparecem inúmeras vezes quase que na mesma velocidade? Esse vai e vem na balança pode ter efeitos muito maiores do que a preocupação estética. O fenômeno conhecido como “efeito sanfona” é capaz de comprometer a saúde do coração.
Emagrecimentos rápidos, muitas vezes alcançados através de dietas drásticas e radicais, podem parecer soluções eficazes momentaneamente, mas escondem um perigo silencioso: as mudanças bruscas no peso são capazes de afetar negativamente o funcionamento do sistema cardiovascular.
O que é o efeito sanfona?
Chamamos de efeito sanfona a oscilação frequente do peso corporal, geralmente causada por dietas que levam a um emagrecimento muito veloz, seguido por um novo ganho de peso. Em parte dos casos, esse ganho chega até a superar o que havia sido perdido.
O ciclo pode se repetir por anos e, além de frustrante, afeta profundamente o metabolismo e a saúde geral. A cada nova tentativa de perder peso, o corpo reage com mais resistência, tornando o processo ainda mais desgastante — física e emocionalmente.
A variação de peso em até três quilos em um mesmo dia, em um fim de semana ou durante um período de festas acontece. Isso pode ocorrer, por exemplo, por conta dos excessos de consumo ou por uma retenção de líquidos.
O efeito sanfona se caracteriza com a perda e ganho de peso após uma dieta intencional, ou seja, o ponteiro da balança vai lá para baixo durante período de restrição alimentar, mas volta a subir quando esse processo é interrompido. Entretanto, não existe um consenso entre os especialistas sobre a quantidade exata de quilos envolvidos. No geral, é considerada uma variação a partir de 5% do peso para cima e para baixo.
Reação do corpo
O organismo, percebendo uma mudança radical na ingestão de alimentos, começa a agir com a intenção de se proteger e reservar a energia necessária para manter o seu funcionamento – inclusive na forma de gordura. Assim, se emagrecer parece difícil, manter-se magro pode ser ainda mais desafiador. Como reação a menor ingestão calórica, o corpo passa a lutar para voltar ao peso original.
Para isso, ele diminui a produção de hormônios que tiram o apetite e eleva a liberação daqueles que aumentam a fome. Também reduz a atividade metabólica e, por consequência, a queima de gordura passa a ser mais lenta. Nesse processo, ocorre ainda uma diminuição de massa muscular e de água nos tecidos.
Portanto, a tendência é que quanto mais privação de calorias, mais ele ativa o “modo economia”. Com o tempo e o retorno da alimentação menos restritiva, o ganho de peso provavelmente será muito maior e mais rápido, causando o tal efeito sanfona.
Por que isso preocupa os cardiologistas?
Pesquisas científicas têm mostrado que essas variações de peso aumentam o risco de doenças cardiovasculares. O sobe e desce constante na balança pode desregular o metabolismo, favorecer processos inflamatórios e gerar instabilidade na pressão arterial.
Além disso, contribui para o aumento da resistência à insulina (quadro que pode levar ao descontrole permanente da glicose e o aparecimento do diabete), a elevação dos níveis de triglicérides e colesterol no sangue e ainda prejudicar a flexibilidade das artérias, fazendo crescer o risco de infartos e AVCs (acidente vascular cerebral).
Dietas radicais: uma armadilha perigosa
Dietas muito restritivas, que prometem perda de peso em tempo recorde, normalmente excluem grupos alimentares importantes e levam a deficiências nutricionais. Ao perder peso de forma acelerada, eliminamos não só gordura, mas também músculos (o próprio músculo cardíaco pode ser afetado em casos extremos).
Essas dietas também costumam, no geral, ser pobres em nutrientes que protegem o coração, como fibras, potássio, magnésio e gorduras boas, e sobrecarregam o organismo com restrições que não são sustentáveis a longo prazo. Assim, quando o indivíduo volta a se alimentar normalmente, o corpo tende a estocar gordura com mais facilidade, e o ciclo recomeça — cada vez mais agressivo.
Como proteger o coração e evitar que essa variação de peso aconteça?
A melhor estratégia para manter a saúde cardiovascular e um peso equilibrado é investir em mudanças realistas, consistentes e que podem ser é incorporadas na rotina. Isso começa com uma reeducação alimentar, feita com acompanhamento profissional, que valorize a variedade, o equilíbrio e o prazer de comer bem.
A prática regular de atividade física, mesmo que moderada, é essencial para manter o metabolismo ativo e fortalecer o coração. Além disso, é fundamental cuidar da saúde mental. Quadros de ansiedade e compulsão alimentar estão frequentemente por trás dos ciclos de perda e ganho de peso – cenários que também interferem no agravamento ou desenvolvimento de problemas cardiovasculares.
Importante ter em mente sempre: mais importante do que emagrecer rápido é fazer isso de forma consciente, com paciência, respeitando os ritmos do corpo. Não existe uma maneira milagrosa de emagrecer rapidamente que não prejudique ou traga prejuízos.
A saúde cardiovascular depende de constância, equilíbrio e escolhas que possam ser mantidas ao longo do tempo. Evitar o vai e vem da balança é uma forma de proteger não só o corpo, mas também a vitalidade e a qualidade de vida.
