A solidão pode afetar a saúde cardíaca?

A solidão pode afetar a saúde cardíaca?

 

Sentir-se sozinho de vez em quando faz parte da experiência humana. Mas quando esse sentimento se torna constante, pode deixar marcas mais profundas do que imaginamos — inclusive no coração, em sentido literal. A ciência já reconhece que a solidão crônica não é apenas um estado emocional, mas também um fator de risco para doenças cardiovasculares.

 

Para começar: o que é solidão?

Solidão é um estado de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só, ou que efetivamente está socialmente isolado, retirado do mundo. Entretanto, é preciso reforçar que solidão não se restringe apenas ao distanciamento físico. O fato é que em muitos casos é possível sentir-se sozinho mesmo estando rodeado de pessoas.

 

A solidão não é um sentimento simples, mas um misto de sensações. Reúne, por exemplo, angústia, dor, medo e tristeza, cenário que pode gerar estresse emocional e ter consequências graves para a saúde do coração, principalmente se for um quadro que vem se prologando por algum tempo e envolver outros complicadores, como diabetes, hipertensão, colesterol alto, obesidade, sedentarismo e tabagismo.

 

O impacto invisível da solidão no corpo

A solidão é capaz de ativar no organismo respostas semelhantes às do estresse. Isso significa uma tendência ao aumento da liberação de cortisol e a vasoconstrição (ou seja, a redução do calibre dos vasos sanguíneos).

 

Com o tempo, as artérias apresentam um menor potencial de adaptação, o que provoca o aumento da pressão arterial e a elevação dos batimentos cardíacos, questões que obrigam o coração a trabalhar mais. Pode ocorrer ainda o surgimento de outros sintomas, entre eles a inquietação, tensão muscular, alteração do sono e aumento do apetite.

 

Essas mudanças sobrecarregam o sistema cardiovascular, favorecendo o desenvolvimento de hipertensão, inflamação crônica e arritmias. A ausência de conexões sociais significativas também está associada a um maior risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).

 

Coração e mente: uma via de mão dupla

A solidão frequentemente caminha junto de quadros como ansiedade e depressão, que também são reconhecidos como fatores de risco para a saúde do coração. Além disso, pessoas emocionalmente isoladas tendem a cuidar menos da saúde física, alimentam-se pior, praticam menos atividade e têm mais dificuldade em manter hábitos saudáveis. A somatória desses aspectos amplia o risco cardiovascular — criando um ciclo que precisa ser interrompido.

 

Conexões que protegem

Por outro lado, manter relações afetivas saudáveis é um ponto positivo e poderoso para o organismo. Estudos indicam que sentir-se parte de uma rede de apoio reduz a pressão, melhora a resposta imunológica e está associado a uma maior longevidade. Ter com quem conversar, partilhar alegrias e angústias, sentir-se visto e acolhido, tudo isso importa, e muito, para a saúde do coração.

 

Cuidar do emocional também é cuidar do coração

Se você tem se sentido sozinho com frequência, saiba que não está sozinho nisso. A solidão é um tema de saúde pública que vem sendo amplamente estudado. Procurar ajuda, fortalecer vínculos, participar de grupos, retomar atividades sociais ou mesmo buscar apoio psicológico são caminhos possíveis e eficazes.