Café faz bem ou mal para o coração? O que diz a ciência atual
Entenda como a bebida pode influenciar a saúde cardiovascular
Você é do tipo de pessoa que não resiste a um cafezinho de manhã, no intervalo do trabalho, depois do almoço ou no fim da tarde? Seja a hora que for, para muitas pessoas, a parada para uma xícara de café é quase obrigatória em alguns momentos do dia.
Não à toa, o café é uma das bebidas mais consumidas no mundo, e seu impacto na saúde cardiovascular tem sido amplamente estudado. Durante décadas, houve muita controvérsia sobre seus efeitos no coração, mas hoje temos uma base científica mais sólida para entender esse relacionamento.
Em meio a tantas descobertas, uma coisa ficou clara: a resposta para o título desse texto não é tão simples quanto um “sim” ou “não”. Tudo depende da quantidade consumida, do tipo de café e da condição individual de cada pessoa — como a sensibilidade à cafeína, presença de doenças cardíacas ou pressão alta. O que a ciência tem revelado nos últimos anos é que, longe de ser o vilão que já foi considerado, o café pode sim ter efeitos benéficos para o coração.
Benefícios para a saúde cardiovascular
O café reúne substâncias bioativas que atuam diretamente na saúde do coração e dos vasos sanguíneos, influenciando desde o funcionamento das artérias até a resposta inflamatória do corpo. Embora a cafeína seja seu composto mais conhecido, ela está longe de ser a única responsável por esses efeitos.
Os ácidos clorogênicos, trigonelina, melanoidinas e polifenóis, por exemplo, possuem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que ajudam a proteger as células contra o estresse oxidativo, a melhorar a função das paredes dos vasos sanguíneos e a reduzir o risco de inflamações crônicas — fatores importantes na prevenção de doenças cardiovasculares.
Além disso, há evidências de que o consumo regular de café pode favorecer a função endotelial, ou seja, a capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos, o que contribui para o controle da pressão arterial e melhora da circulação.
Outro ponto relevante é o impacto do café no metabolismo. A cafeína pode aumentar temporariamente a taxa metabólica, estimular a queima de gordura e melhorar a sensibilidade à insulina, especialmente em pessoas com síndrome metabólica ou predisposição ao diabetes tipo 2.
Potenciais riscos
Apesar dos benefícios associados ao consumo moderado de café, é importante considerar que essa bebida também pode causar efeitos negativos para algumas pessoas, especialmente quando ingerida em excesso ou por indivíduos com condições clínicas específicas.
A cafeína eleva temporariamente a frequência cardíaca e a pressão arterial — efeitos que, em pessoas saudáveis, tendem a ser passageiros, mas que representam um risco em casos de hipertensão descontrolada ou arritmias cardíacas. Em alguns indivíduos mais sensíveis, mesmo doses moderadas dessa substância podem provocar palpitações, ansiedade ou insônia, o que, ao longo do tempo, é capaz de impactar a saúde cardiovascular de maneira indireta.
Estudos mostram ainda que o consumo elevado — geralmente acima de 400 mg de cafeína por dia, o equivalente a cerca de quatro xícaras de café — está associado a um risco maior de eventos adversos, especialmente em pessoas predispostas.
Além disso, o impacto do café varia de acordo com o tipo de preparo: cafés não filtrados, como o expresso ou o preparado na prensa francesa, podem conter maiores quantidades de diterpenos (cafestol e kahweol), substâncias que aumentam o colesterol LDL (“ruim”) e podem, com o tempo, contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Também é preciso considerar que nem todos os efeitos do café são mediados pela cafeína. A interação com medicamentos — como antidepressivos do tipo IMAO — e o agravamento de sintomas e condições como ansiedade, enxaqueca, insônia, gastrite, úlceras, zumbido ou labirintite tornam necessário um consumo consciente.
Na medida certa
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a recomendação é uma a três xícaras por dia de café — muitos cardiologistas indicam até duas xícaras diárias como uma quantidade ideal para a maioria das pessoas. O consumo da cafeína ou café em excesso não é recomendado, além dos casos já citados acima, para crianças, gestantes e lactantes.