Infarto e idade

Um infarto pode acontecer em qualquer idade – previna-se!
Monitorar a saúde do coração é essencial em qualquer fase da vida

 

Parece bobagem quando somos novos, mas cuidar da saúde cardiovascular é essencial em qualquer idade. Não importa se você tem 20, 40, 60 anos ou mais, investir em hábitos saudáveis e realizar check-ups regulares são atitudes que podem garantir uma vida mais longa e com qualidade.

 

O fato é que não existe idade certa para o coração sofrer um infarto. Está cada vez mais frequente nos depararmos com casos de vítimas jovens, sem sintomas e aparentemente com a saúde em dia. E isso está muito relacionado ao estilo de vida, o excesso de atribuições e responsabilidades e a carga de estresse cada vez maior que vivemos.

 

Para começar: por que o infarto ocorre?

O infarto acontece por conta de uma isquemia cardíaca, isto é, o bloqueio ou redução na circulação de sangue no coração devido ao acúmulo de placas de gordura nas artérias coronárias, as responsáveis por irrigar o órgão. Esse quadro recebe o nome de doença arterial coronária (DAC).

 

O grau de obstrução varia, assim como os sintomas, que podem ser diferentes de pessoa para pessoa. De maneira geral, obstruções de mais de 70% nas coronárias tem como principal indício a angina (desconforto ou dor no peito). Outros sinais comuns são falta de ar, fadiga extrema durante o esforço e dores no ombro, braço ou mandíbula.

 

Porém, nem sempre isso ocorre. Estimativas apontam que apenas cerca de 2% dos brasileiros sabem que estão infartando. É possível que a DAC se desenvolva ao longo de anos de forma progressiva e silenciosa, aumentando a probabilidade de um ataque fulminante em indivíduos de qualquer idade.

 

Isso porque, quando há um bloqueio total da coronária pela formação de coágulo sobre a placa de gordura, a obstrução pode acontecer em maior velocidade ou mesmo subitamente. Nesse momento, ocorre o início do infarto agudo do miocárdio e o processo de necrose da musculatura do coração, com chances de arritmia grave, disfunção do órgão e até a morte.

 

Desafios na juventude

Na juventude é comum sentir-se invulnerável, mas os hábitos e estilo de vida adotados nesse período impactam significativamente a saúde no decorrer da vida. Pesquisas apontam que aproximadamente 15% dos casos de infarto do miocárdio estão ligados ao estresse, fator que contribuí, inclusive, para o crescimento do número de ataques cardíacos precoces. O quadro é capaz de desencadear picos de pressão e o colapso do músculo cardíaco (miocárdio).

 

Somado a isso temos a multiplicação de hábitos não saudáveis, como má alimentação e uma dieta desregulada, sedentarismo, automedicação sem limites, poucas horas de sono, tabagismo, excesso de álcool e o consumo de drogas ilícitas, pontos que colocam em risco o coração e a vida de pessoas nessa faixa etária, além dos conhecidos fatores apontados como os grandes responsáveis pelo aumento das estatísticas, como a obesidade, diabetes, hipertensão e níveis altos de colesterol.

 

Hereditariedade

Além dos fatores que interferimos, é fundamental considerar o histórico familiar no desenvolvimento da doença arterial coronária. Ataques cardíacos podem acontecer com qualquer pessoa, mas o risco é especialmente alto quando envolve a questão genética. Estima-se, por exemplo, que filhos de pais hipertensos ou que já tiveram acidente vascular cerebral (AVC) têm 50% mais chance de sofrer um infarto precoce.

 

A hereditariedade é capaz de influenciar também no colesterol. Em alguns casos, o colesterol elevado está relacionado a chamada hipercolesterolemia familiar. Cerca de 1% a 2% das crianças têm esta condição, e devem ter seus níveis de colesterol monitorados antes mesmo dos 5 anos. Estudos revelam que, nessa situação, o acúmulo de placas de gordura nas artérias do organismo, principalmente nas coronárias, começa na infância e progride até a idade adulta, o que, com o tempo e a falta de cuidados, pode levar a DAC.

 

Por isso, a investigação e o acompanhamento, quando há registros de casos de pais e parentes próximos, é extremamente importante. Sem conhecimento prévio, muitas vezes o comprometimento cardiovascular só se revela na hora do próprio infarto.

 

Com o passar dos anos

Assim como o infarto, as doenças que envolvem o coração de modo geral afetam com mais frequência pessoas acima de 40 anos. Por isso, à medida que envelhecemos, os cuidados com a saúde do órgão tornam-se ainda mais cruciais. Condições como hipertensão, diabetes e colesterol elevado podem se desenvolver ou agravar com o tempo, aumentando as chances de complicações.

 

Entretanto, há uma polêmica em relação a idade, gravidade e consequências do infarto. O que muitos afirmam é que, com o passar dos anos, o coração se prepara melhor para futuros problemas. Parte dos especialistas defende que os ataques cardíacos são mais letais entre os mais jovens, mesmo que esses indivíduos tenham mais força física para suportá-los.

 

E isso se explica devido ao que chamamos de circulação colateral: uma rede de vasos sanguíneos que se desenvolvem ao redor do músculo cardíaco ao longo da vida ou por aqueles que já enfrentaram um infarto. Uma espécie de proteção natural, uma via alternativa para a circulação arterial coronária. Seria uma saída do organismo para compensar a falta de irrigação causada por uma artéria obstruída.

 

Seguindo esse raciocínio, mesmo que jovens tenham mais força física para suportar um ataque cardíaco, o problema entre os mais velhos seria menos intenso e mais lento por conta dessa compensação. O que vem se estudando, contudo, é que a circulação colateral pode, sim, ser decisiva para o desfecho de um infarto, mas a idade não teria influência sobre esse fenômeno, uma vez que há indícios que ela não seja maior ou menor no jovem, mas sim determinada geneticamente.

 

Atendimento rápido

Não existe ainda um consenso sobre o grau de mortalidade ter ou não a ver com a idade, no entanto, em relação as sequelas todos concordam: neste caso, o principal fator determinante é a velocidade dos primeiros socorros. Quanto mais rápido for iniciado o atendimento médico, menor será o tempo para o restabelecimento do fluxo de sangue, assim como os danos ao miocárdio e células do músculo cardíaco, com possibilidade de recuperação completa.

 

Cuidados para a vida toda

Os cuidados com a saúde do coração devem começar antes mesmo do nascimento e se estender durante toda a vida. Como vimos, além da questão genética, as complicações estão diretamente ligadas ao estilo de vida e outros pontos de atenção.

 

Por isso, nunca devemos ignorar sintomas, mesmo sutis, minimizar fatores de risco, ser negligente com check-ups médicos ou a uma predisposição familiar para problemas no órgão.

Doenças, quando não detectadas precocemente, geralmente dão indícios no decorrer da vida. No caso de eventos cardiológicos, alterações frequentes e sem motivo claro dos batimentos e limitações físicas atípicas, por exemplo, devem servir como alerta.

 

Entretanto, muito do que buscar ajuda quando algum sinal aparecer, é importante investir na prevenção: buscar manter uma alimentação e hábitos saudáveis, atividades físicas, atenção ao estresse e a qualidade do sono, o controle do colesterol, diabetes e pressão e o acompanhamento médico regular.

 

A primeira avaliação deve ser feita a partir dos 30 anos em pessoas que têm casos na família (quando não existe nenhum indício para realizá-la antes). Na ausência de histórico, a avaliação poderá ocorrer entre 35 e 40 anos – com reavaliações anuais. A partir daí, a recomendação é de check-ups uma vez ao ano e, em situações de maior risco, a cada seis meses.