Síndrome do coração festeiro

Curta as festas de fim de ano sem colocar a saúde do seu coração em risco!

 

As festas de fim de ano são marcadas por celebrações, encontros entre amigos e familiares, muita comida e, para boa parte das pessoas, também o aumento no consumo de álcool. Apesar do clima de alegria e confraternização, é nesse período que alguns indivíduos podem enfrentar um risco maior de problemas cardiovasculares.

 

A principal razão tem nome: “síndrome do coração festeiro”, termo criado na década de 1970 pelo pesquisador Philip Ettinger e sua equipe da CMDNJ-New Jersey Medical School (EUA) para se referir ao possível aumento de eventos envolvendo o coração e os vasos sanguíneos durante o período de Natal, Ano Novo e, para alguns, das férias de verão.

 

O que é?

A “síndrome do coração festeiro” é um quadro que se caracteriza pelo surgimento de uma disfunção no sistema elétrico do coração, um distúrbio agudo do ritmo cardíaco, isto é, uma arritmia. Os batimentos ficam irregulares ou descompassados. A mais frequente em indivíduos acometidos pela síndrome é a fibrilação atrial.

 

Ela ocorre, em geral, em pessoas que não apresentam histórico de doenças cardiovasculares, mas que saíram da dieta e relaxaram nos cuidados, cometendo extravagâncias no cardápio e no consumo de bebidas alcoólicas nas confraternizações e ceias. Também está associada a altos níveis de estresse emocional e outros fatores ligados ao período festivo.

 

A constatação de Ettinger foi que, após as celebrações que ocorrem neste momento do ano, a tendência era de um aumento na quantidade de pacientes que chegavam com complicações cardíacas ao médico ou ao pronto-socorro por conta dos excessos cometidos.

 

Em curto prazo, a síndrome pode ser simplesmente um efeito colateral alarmante que merece ser monitorado. No entanto, caso persista e não tenha a devida atenção, é capaz de agravar quadros de hipertensão e arritmias crônicas ou até levar a consequências mais sérias, incluindo a insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC).

 

Por que as festas de fim de ano podem ser um perigo?

 

– Excesso de álcool

O álcool consumido de forma exagerada é capaz de gerar consequências muito mais sérias do que uma ressaca no dia seguinte. Como vimos, as bebidas alcoólicas estão no topo da lista das causas da “síndrome do coração festeiro”. Isso porque nas celebrações de fim de ano há uma tendência a um aumento não só em quantidade, mas também na regularidade (o volume é maior em um espaço curto de tempo).

 

O fato é que o álcool é uma toxina para o organismo, capaz de causar os distúrbios no ritmo cardíaco e uma sobrecarga ao órgão: acelera o metabolismo e aumenta a pressão arterial, fazendo a pessoa suar mais e perder sais minerais; estimula a liberação de adrenalina e noradrenalina, hormônios que provocam a aceleração da frequência; faz com que o corpo perca potássio (pelo aumento do volume de diurese).

 

Beber demais ainda pode interferir nos níveis de diabetes e triglicérides que, combinado com colesterol, estimula o depósito de gordura na parede das artérias e eleva o risco de ataque cardíaco e AVC.

 

– Combinações perigosas

O cenário fica mais crítico quando junto com o álcool há também a ingestão de um energético, bebida que contém cafeína (estimulante que age no sistema nervoso central) e taurina (aminoácido sintetizado no fígado e cérebro, que trabalha na regulação dos níveis de água e sais minerais do sangue).

 

O energético potencializa o risco de arritmia, já que as substâncias de sua composição influenciam na irritação do músculo do coração, o miocárdio. Outro agravante é que ao consumir os dois simultaneamente, o indivíduo tende a tolerar uma quantidade muito maior de álcool do que o normal.

 

Vale destacar ainda outra combinação de risco: álcool com medicamentos – e não apenas aqueles de uso contínuo, como os remédios para hipertensão, diabetes ou depressão. Um simples analgésico, por exemplo, ao ser misturado com bebida alcoólica em excesso, pode colocar a saúde em risco. As reações vão desde alterações gastrointestinais, como náuseas e vômitos, até dores de cabeça intensas, palpitações, hipotensão, tontura, taquicardia, convulsões, intoxicação aguda, coma e a morte.

 

– Comidas gordurosas e ricas em sal

Dietas desequilibradas podem interferir na saúde do coração e sobrecarregar o sistema cardiovascular. Especialmente para aqueles com algum fator de risco, como diabetes, colesterol ou pressão alta, uma descompensação causada pelo desequilíbrio alimentar e a ingestão abusiva de sal, gorduras, frituras e doces pode desencadear, além das arritmias, retenção hídrica, crise hipertensiva, hiperglicemia, problemas circulatórios e até mesmo algo mais sério, como um infarto.

 

– Estresse e ansiedade

O fim de ano, embora seja uma época de festas e celebrações, também é para muitos um período de grande pressão. A organização para o recesso no trabalho, o planejamento de eventos e viagens, a escolha de presentes e, em alguns casos, conflitos familiares são capazes de elevar os níveis de estresse e ansiedade.

 

Essa sobrecarga emocional estimula a liberação de adrenalina, hormônio que, como dito, pode sobrecarregar o coração. Isso aumenta o risco de arritmias cardíacas e eleva a pressão arterial, especialmente em pessoas já predispostas a questões cardiovasculares. Por isso, reservar momentos de pausa para relaxar, delegar tarefas e evitar cobranças excessivas são atitudes simples que ajudam a proteger a saúde.

 

Privação do sono

A agenda intensa comum no período pode levar a noites mal dormidas e a privação de sono, outro motivo que está na lista dos principais vilões para a saúde cardíaca. Dormir pouco ou de forma irregular prejudica a recuperação do organismo, desregula o sistema nervoso e aumenta o risco de arritmias.

 

Além disso, a falta de sono afeta a pressão arterial, dificulta o controle do estresse e compromete o metabolismo. A recomendação é procurar manter uma rotina mínima de descanso, priorizando de 7 a 8 horas de sono por noite sempre que possível. Um coração descansado é um coração mais saudável e pronto para aproveitar os bons momentos.

 

Quem está em risco?

A “síndrome do coração festeiro” pode afetar qualquer pessoa, mas alguns grupos apresentam maior vulnerabilidade, como indivíduos com histórico de hipertensão, diabetes ou colesterol alto, pessoas sedentárias, quem já tem alguma condição cardíaca subjacente e aqueles que exageram com frequência no consumo de álcool, mesmo sem antecedentes de doenças envolvendo o coração.

 

É importante reforçar que a maioria dos pacientes diagnosticados com a condição são pessoas aparentemente saudáveis, de qualquer idade, sem o registro pessoal ou familiar de palpitações, evidências clínicas ou sintomas de problemas cardiovasculares.

 

Sintomas

O primeiro sinal da síndrome tende a ser o início súbito de palpitações intermitentes ou contínuas, seguidas de dor, pressão ou desconforto no peito. Outros indícios são: fadiga excessiva, vertigem, tontura, desmaio e falta de ar (dificuldade de respirar durante as atividades normais e até mesmo em repouso).

 

Importante esclarecer, no entanto, que algumas arritmias também podem ocorrer sem sintomas clínicos claros, dificultando o diagnóstico de alguns episódios da “síndrome do coração festeiro”.

 

Como prevenir o problema?

Para curtir as festas com segurança e evitar riscos, algumas medidas simples fazem toda a diferença. O ponto chave a ter em mente é a moderação, tanto em relação aos alimentos como no caso das bebidas alcoólicas.

 

Por exemplo, entre as carnes prefira as mais magras, como peixes ou peru, que possuem baixo teor de gordura, são fontes proteicas e ricas em vitaminas. Carnes de porco e carneiro podem ser consumidas, mas com moderação, já que contam com maior teor de gorduras saturadas.

 

Diabéticos e hipertensos, como sabem, devem ter cautela com a ingestão de doces, sal e alimentos embutidos ricos em sódio. Para equilibrar, a orientação para todos é investir em frutas cítricas e vermelhas, castanhas e cereais integrais, além da hidratação.

 

Além disso, é preciso investir em aspectos que auxiliam o organismo a se recuperar desses momentos de excesso: ter atenção ao estresse, manter a prática de atividades físicas, reservar um tempo para o descanso e garantir boas noites de sono.

 

Cuidado redobrado para quem já tem doenças cardíacas!

Para quem já tem o diagnóstico de problemas cardiovasculares, a recomendação é seguir rigorosamente as orientações do médico durante as festas, evitar exageros e se certificar de manter os medicamentos em viagens ou eventos prolongados.

 

Por fim, vale deixar claro que a “síndrome do coração festeiro” é, na maior parte dos casos, reversível. O ritmo irregular geralmente desaparece espontaneamente dentro de 24 horas, com controle da dieta e a ingestão de álcool interrompida.

 

De modo geral, o paciente diagnosticado com a condição não precisa de nenhum tratamento específico, a menos que desenvolva sintomas e questões relacionadas ao ritmo cardíaco rápido, como dispneia ou dor no peito (angina). Em quadros graves, é possível que seja necessário o uso de medicamentos antiarrítmicos, porém, sempre – e somente – com orientação profissional. Por isso, caso a arritmia se estenda por horas e ainda venha acompanhada de outros sinais, é indicado procurar atendimento.