Esclareça suas dúvidas sobre as varizes!
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), estima-se que hoje no país cerca de 38% da população tenha varizes ou veias varicosas, percentual que equivale a aproximadamente 57 milhões de brasileiros.
Apesar de ser um problema comum, a condição ainda reúne muita desinformação, dúvidas e mitos. Desde suas causas até as opções de tratamento e consequências, boa parte dessas crenças acaba influenciando a forma como as pessoas lidam com a questão, deixando de lado cuidados essenciais e levando a interpretações equivocadas sobre o que realmente funciona.
Com tanta gente afetada, torna-se assim fundamental esclarecer e desvendar as principais questões acerca do assunto:
VERDADES
– Varizes não são apenas um problema estético
As varizes são veias superficiais, salientes na pele, de coloração púrpuro-azulada, dilatadas e deformadas que no geral aparecem nas pernas e pés. Além de incômodas visualmente para muitas pessoas, podem causar – em particular nos membros inferiores – sintomas como dores, inchaços, coceiras, cãibras, manchas verdes ou roxas, sensação de queimação, peso e cansaço.
Em casos mais graves, levam ao surgimento ou agravamento de doenças, como a trombose venosa, flebites (inflamação dos vasos), úlceras (feridas nas pernas de difícil cicatrização), gangrena e até embolia pulmonar. Portanto, muito além de uma questão estética, as varizes podem trazer consequências e riscos sérios à saúde.
– As varizes surgem por um problema na circulação sanguínea
As veias varicosas ficam evidentes devido a problemas na circulação e o acúmulo de sangue não oxigenado. Para entendermos a questão, de forma resumida: o sistema cardiovascular é formado pelo coração e vasos sanguíneos; e é do órgão a responsabilidade de bombear o sangue para o corpo todo através de uma rede de artérias, veias e capilares.
Contudo, o caminho de volta não é tão simples e fácil, em especial na irrigação das pernas e pés, em que é preciso agir contra a gravidade. Esse sangue, chamado de venoso, precisa de impulso para conseguir retornar ao coração e completar o ciclo.
Nesse processo contamos com o auxílio da panturrilha, tida como um “segundo coração”. É ela que, ao contrair e relaxar, empurra o sangue para cima. Quando isso não ocorre, o principal problema é a insuficiência venosa crônica, caracterizada pelo surgimento das varizes.
Além disso, as veias possuem válvulas que abrem e fecham, impedindo que o sangue tome a direção contrária. Ao ficarem varicosas, enfraquecem. Com o tempo, se dilatam, deformam e podem deixar de cumprir seu papel. Assim, as válvulas também perdem a função e não controlam mais o retorno do sangue, que então passa a acumular nas canelas e nos tornozelos.
– Ficar em pé ou sentado por longos períodos pode agravar as varizes
Passar regularmente muito tempo na mesma posição dificulta a circulação e contribui para o aparecimento ou agravamento das varizes. Em pé prejudicamos a subida do sangue; sentados, sem movimento, as veias dilatam e exercem mais pressão no bombeamento sanguíneo. O ideal é alternar entre os dois, assim como alongar-se e fazer caminhadas (mesmo que curtas).
Neste ponto, vale esclarecer que isso independe do tipo de superfície, seja ela mais flexível ou dura, como o cimento. Ficar por períodos prolongados em solos rígidos pode provocar dores musculoesqueléticas, mas têm uma influência direta mínima sobre as veias varicosas.
– Varizes podem ser hereditárias
A genética desempenha papel importante no desenvolvimento das varizes. Se um ou ambos os pais têm veias varicosas há uma probabilidade maior de que os filhos também desenvolvam a condição – segundo estimativas, a chance é de 40%. Assim, a atenção deve ser redobrada para quem tem um parente próximo com o problema ou histórico de trombose na família.
– Gravidez e hormônios podem influenciar no surgimento de varizes
Durante a gravidez, o volume de sangue no corpo aumenta, o que sobrecarrega as veias das pernas. Além disso, o aumento dos hormônios no período da gestação pode enfraquecer as paredes desses vasos, contribuindo para o desenvolvimento da condição. Para a maioria das mulheres essas alterações são temporárias, retornando ao normal após o parto.
O uso de contraceptivos hormonais também pode influenciar. Isso porque os hormônios presentes na fórmula dos anticoncepcionais, especialmente o estrogênio e a progesterona, provocam efeitos nas estruturas envolvidas na circulação e no fluxo do sangue. O estrogênio pode alterar as paredes das veias e danificar as válvulas responsáveis pelo controle da passagem do sangue. Já a progesterona aumenta a dilatação das veias e o fluxo sanguíneo.
– Exercícios físicos são benéficos para prevenir varizes
Atividades que promovem a contração e o relaxamento dos músculos das pernas, sobretudo aquelas que envolvem a musculatura da panturrilha – entre elas, caminhadas, natação e exercícios aeróbicos de baixo impacto – fortalecem a região e ajudam a circulação, prevenindo o aparecimento de varizes. Estudos apontam que mesmo indivíduos que já sofrem de insuficiência venosa se beneficiam.
Importante destacar que os exercícios contribuem ainda com o controle de peso, que também interfere no desenvolvimento das veias varicosas. A obesidade pode piorar a circulação sanguínea, principalmente quando há excesso de gordura abdominal.
– Varizes levam a trombose
A trombose surge a partir da formação de trombos, isto é, coágulos no sangue. É ocasionada por varizes, longos períodos sem se movimentar, desequilíbrio hormonal, tabagismo, colesterol elevado (o colesterol ruim, LDL), entre outros. Portanto, se não forem tratadas, as veias varicosas podem levar a uma condição inflamatória, a formação de trombos e a obstrução (parcial ou total) dos vasos sanguíneos.
É possível ainda que um coágulo migre das pernas para um ou dois pulmões, desencadeando uma embolia pulmonar. Nessa situação há uma dificuldade acentuada do ventrículo direito em bombear o sangue para os pulmões, gerando redução na oxigenação, dispneia e diminuição da pressão arterial. Quando o quadro se agrava pode ocorrer até uma parada cardíaca.
As varizes progridem aos poucos e em muitos casos não há vestígios nos estágios iniciais. As manifestações ou complicações vão depender, entre outros fatores, do grau de comprometimento das veias.
MITOS
– Cruzar as pernas causa varizes
Apesar de o hábito de cruzar as pernas momentaneamente reduzir o fluxo sanguíneo, ele não é responsável por causar varizes. A pressão com o cruzamento de pernas ou com uma calça apertada, por exemplo, é mínima e não tem força suficiente para danificar as veias. Dependendo da duração e localização, entretanto, pode intensificar os sintomas das veias varicosas.
– Apenas mulheres têm varizes
Embora as pessoas do sexo feminino sejam as mais afetadas e propensas a desenvolver a condição, os homens também podem ter varizes. Segundo a SBACV, o problema acomete cerca de 45% das mulheres e 30% dos homens (considerando todas as faixas etárias).
Parte disso porque o fator hormonal é um dos desencadeantes para a doença venosa. E as mulheres passam com mais frequência por essas variações ao longo da vida: na gravidez (duas ou mais gestações aumentam as chances de varizes), na menopausa e, como já mencionado, com o uso de anticoncepcionais. Entre o sexo masculino, o problema se manifesta em particular quando há fatores de risco, como histórico familiar ou condições de trabalho que exigem ficar em pé por longos períodos.
– Varizes só aparecem em idosos
De fato a idade aumenta a probabilidade: quanto mais velho o indivíduo, maiores as chances de veias varicosas. Estimativas apontam que 70% das pessoas acima dos 70 anos podem ter varizes. O envelhecimento favorece o desgaste das válvulas que ajudam a regular o fluxo sanguíneo nas veias. Isso não quer dizer, porém, que todos os idosos vão desenvolver veias varicosas.
Ainda que as varizes sejam mais comuns nesta faixa etária, elas também podem acometer jovens, especialmente se houver predisposição genética ou outros fatores de risco, como o sedentarismo. As varizes são cada vez mais comuns a partir dos 30 anos. É possível, inclusive, que crianças e adolescentes apresentem a condição.
– Vasinhos e varizes são a mesma coisa
As varizes são veias grossas que medem cerca de 3 mm de diâmetro. Os vasinhos por sua vez são linhas arroxeadas ou azuladas, que se assemelham a teias de aranha, e recebem o nome de telangiectasias. São veias mais finas, menores (medem menos de 1 mm de largura) e superficiais – estão na derme e na epiderme. E não estão relacionadas a problemas de saúde.
Dentro da classificação dos vasinhos, vale mencionar as microvarizes ou varizes reticulares, vasos um pouco maiores (medem entre 1 e 3 mm de diâmetro) e mais profundos do que as teleangiectasias, mas ainda de relevância estética. Porém, aqui vale o alerta: quem tem muitas formações de vasinhos deve ficar atento. É comum que as varizes apareçam em conjunto a eles ou na sequência.
– Varizes não precisam de tratamento se não causarem dor
Embora grande parte das pessoas busque atendimento apenas por estética ou já com sintomas mais graves, nenhum sinal deve ser negligenciado. Como vimos, veias varicosas sem tratamento podem evoluir e causar complicações sérias ao longo do tempo, mesmo que inicialmente não provoquem dores, inchaços e outros incômodos. As varizes são um alerta para o surgimento ou agravamento de doenças, como a trombose.
Além de existirem diversas formas de tratamento, quem tem pré-disposição para o quadro deve focar, em primeiro lugar, na prevenção, com mudanças de hábitos e atenção a fatores de risco.
– Varizes podem desencadear um ataque cardíaco
Se as varizes indicam problemas na circulação e a distribuição do sangue pelo corpo é a principal função do coração, má circulação nas pernas indica também má saúde do coração? A resposta é não. Pessoas com varizes não apresentam, necessariamente, complicações cardíacas ou têm mais chances de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) ou ataque cardíaco (infarto). São problemas distintos.
A presença de varizes indica, conforme explicado, uma falha no retorno do sangue ao coração. As causas e os fatores de risco para eventos cardiológicos ou varizes e uma das suas principais consequências, a trombose, muitas vezes são os mesmos, gerando confusão. Talvez porque muitos pacientes que apresentam doenças ou eventos envolvendo o coração tenham simultaneamente veias varicosas, mas não são elas o gatilho para isso.
– Todas as varizes precisam ser removidas cirurgicamente
Nem todas as varizes exigem cirurgia. Na presença de veias varicosas, o médico, depois de uma avaliação rigorosa para determinar a gravidade, irá selecionar qual o melhor tratamento para cada paciente, considerando os diferentes tipos de varizes e cenários.
Em estágio inicial (e para prevenção de quem já tem predisposição), as varizes podem ser tratadas, por exemplo, com meias de compressão, exercício físico diário, cuidados na alimentação (evitar alimentos gordurosos para combater as altas taxas de colesterol no sangue), redução de peso e mudanças na rotina, particularmente ao não fumar e evitar ficar em pé ou sentado por muito tempo.
Massagens para drenagem vascular e linfática, que visam aumentar a circulação e melhorar a nutrição dos tecidos, também podem ser benéficas. Dependendo da situação, um especialista pode indicar terapias com medicamentos e até intervenções cirúrgicas. Hoje há tratamentos menos invasivos e igualmente eficazes que permitem uma recuperação rápida, como a escleroterapia (injeção de substâncias que causam o fechamento da veia) e o uso de lasers.