Entenda a importância do exame de hemoglobina glicada
Creio que muitos aqui já fizeram ao menos uma vez o exame de hemoglobina glicada ao longo da vida, entretanto, talvez nem todo mundo tenha entendido sua magnitude e importância, especialmente para quem convive com o diabetes – umas das doenças crônicas que mais atinge os brasileiros: estima-se que o país já tenha mais de 20 milhões de pessoas com doença.
Acontece que esse marcador é essencial para monitorar a saúde daqueles que apresentam fatores de risco ou já tem a condição diagnosticada, não só no momento em que é realizado, mas também para prevenir complicações futuras.
O que é?
O exame de hemoglobina glicada (A1c) é uma ferramenta diagnóstica que mede a quantidade de glicose ligada à hemoglobina, uma proteína encontrada nos glóbulos vermelhos. Trata-se de um marcador que reflete, portanto, os níveis médios de glicose (açúcar) no sangue nos últimos dois a três meses, permitindo um controle glicêmico mais efetivo.
Por que é importante?
Para quem tem diabetes, manter a hemoglobina glicada dentro de níveis adequados reduz a probabilidade de complicações crônicas e graves associadas à doença. Já para aqueles que não têm a condição, mas apresentam alguma predisposição – e talvez nem saibam disso – o exame pode indicar um risco aumentado de desenvolver diabetes no futuro, ajudando assim na identificação precoce e implementação de medidas preventivas.
O açúcar no corpo
A glicose é fundamental para a manutenção e o bom funcionamento do organismo, particularmente na geração de energia. É ela o principal combustível para que os processos fisiológicos ocorram e uma das responsáveis por liberar ao cérebro a dopamina, hormônio que provoca a sensação de prazer e bem-estar. No entanto, sem excessos!
Seus índices no sangue precisam se manter dentro de parâmetros considerados normais, isto é, abaixo de 100 mg/dL (em jejum). Números acima disso indicam o que chamamos de hiperglicemia. Uma pessoa é classificada como pré-diabética ao atingir entre 100 e 125 mg/dl de glicemia ou valores de 5,7 a 6,4% na dosagem da hemoglobina glicada. A partir de 126 mg/dl ou superior a 6,4% de hemoglobina glicada são considerados quadros de diabetes.
Qual a relação da glicose com o diabetes?
Quando os níveis de açúcar ficam muito altos, há um desgaste metabólico no corpo capaz de gerar inúmeros danos à saúde. Isso por uma conta da energia gasta para liberar insulina, hormônio produzido pelo pâncreas responsável em mover a glicose da corrente sanguínea para dentro das células, fazendo o controle glicêmico.
Se isso não ocorre, o açúcar fica acumulado no sangue e, além de causar problemas, pode ter como resultado o surgimento do diabetes. A hiperglicemia está desta forma associada à condição por conta da sobrecarga causada no pâncreas, que não consegue produzir insulina suficiente (diabetes tipo 1) ou torna-se incapaz de usar o hormônio de forma eficaz (diabetes tipo 2).
Glicose fora de controle
O diabetes não tem cura e precisa assim de atenção e monitoramento constantes, com o devido acompanhamento médico. A ausência de diagnóstico e o retardo no início do tratamento levam questões sérias e muitas vezes irreversíveis, como aumento de infecções, doenças cardiovasculares, cegueira, doenças renais, comprometimento da saúde bucal, dos nervos, amputações e até a morte.
Diabetes e o coração
Com a alta da glicose no sangue, várias alterações que interferem na saúde do coração e dos vasos sanguíneos podem ocorrer. Para começar, o nível de colesterol aumenta, formando um número maior de placas de gordura nas artérias coronárias (responsáveis por irrigar o coração), que correm o risco de serem obstruídas.
O excesso de glicose na circulação favorece também a produção de coágulos, que, da mesma maneira, são capazes de bloquear as coronárias. A obstrução desses vasos, parcial ou total, tem como consequência o surgimento de fatores de risco, doenças e eventos cardiovasculares. Entre eles a insuficiência cardíaca, hipertensão, aneurisma da aorta e o infarto do miocárdio.
Existe ainda a possibilidade de que o mesmo processo que acontece com as coronárias ocorra em outras artérias do corpo, resultando, por exemplo, na falta de sangue para o cérebro, cenário que leva a um acidente vascular cerebral (AVC), ou a ausência de sangue suficiente nos pés, mãos ou braços, causando a doença vascular periférica.
Sintomas
Um quadro de glicose elevada costuma afetar diferentes sistemas do corpo e de maneiras distintas. É possível apresentar um ou mais sintomas ao mesmo tempo e, em alguns casos, pode não haver qualquer indício até que o nível de açúcar no sangue esteja muito alto.
Na lista dos sinais mais frequentes estão: boca seca e sensação de sede contínua, vontade excessiva de urinar, pele escura na região do pescoço, hálito com cheiro de frutas, acetona ou esmalte de unha, aumento da fome, sonolência, cansaço excessivo, irritabilidade, alterações na visão, perda de peso não intencional, náusea e vômito, dores de cabeça, infecções recorrentes, dormência ou formigamentos nas mãos e pés.
Controle e prevenção
E não importa o quanto seja cuidadoso, quem tem diabetes provavelmente vai apresentar a hiperglicemia em alguns momentos. Episódios leves e ocasionais, de modo geral, não são motivo de preocupação. Contudo, o quadro se torna potencialmente perigoso se os níveis de açúcar no sangue ficarem muito elevados ou permanecerem altos por longos períodos.
Por isso, o exame de hemoglobina glicada é tão importante. Com testes regulares, é possível ajustar tratamentos e medicamentos, garantindo um controle mais preciso da glicemia. O teste desempenha, portanto, papel crucial na gestão e prevenção do diabetes, contribuindo para a saúde em longo prazo.
Podemos dizer que esse exame é uma peça-chave para uma vida mais saudável e equilibrada. Por isso, se você nunca fez ou não lembra a última vez que realizou o teste, agende seu exame de hemoglobina glicada e converse com seu médico sobre os resultados. Sua saúde agradece!