Está com uma tosse que não passa?
Entenda o que o sintoma pode revelar sobre a saúde do seu coração
De modo geral, a tosse é um reflexo natural do corpo, uma ferramenta do organismo para manter as vias aéreas limpas de muco e agentes irritantes ou alérgenos, que vão desde poeira, fumaça, pólen, pelos de animais, mofo, poluentes do ar, produtos químicos até a deglutição ou ingestão inadequada de bebidas e alimentos.
Na maioria dos casos, o sintoma não é motivo de preocupação. A tendência é que desapareça no máximo dentro de alguns dias ou poucas semanas. Entretanto, uma tosse persistente ou crônica, em especial sem um motivo que a justifique, precisa ser investigada. Isso porque pode ser o indício de uma disfunção mais grave ocorrendo no organismo.
O que causa a tosse?
Na maioria dos casos, a tosse é uma consequência de quadros de gripes, resfriados e outras condições pulmonares e respiratórias, como bronquite, rinite, asma, pneumonia, fibrose pulmonar e doença pulmonar obstrutiva crônica, ou ainda surge associada à doença do refluxo gastroesofágico ou refluxo ácido, ao fumo (fumar pode irritar as vias respiratórias e os pulmões) e como efeito colateral de alguns medicamentos.
O que nem todo mundo tem conhecimento, no entanto, é que é possível que a tosse também seja um sinal de que há algo errado com a saúde cardiovascular. E não há apenas uma, mas algumas questões que alteram o funcionamento do órgão e provocam o sintoma.
A relação entre tosse e o coração
A tosse relacionada a problemas que envolvem o coração recebe o nome de “tosse cardíaca”. Ela surge, por exemplo, em quadros de doenças da valva mitral, em casos avançados das lesões da valva aórtica, nas doenças obstrutivas do coração, em cardiomiopatias (doenças do músculo cardíaco) e em várias cardiopatias congênitas.
Isso porque quando o órgão não funciona como deveria, há um aumento do retorno de sangue para os pulmões, especialmente ao deitarmos, o que pode resultar na congestão pulmonar e estimular a tosse (em geral com muco).
Em resumo, a tosse cardíaca ocorre, portanto, em decorrência de uma insuficiência cardíaca congestiva, quadro em que o coração fica dilatado e com sua função de bombeamento reduzida: o órgão se torna incapaz de bombear de forma eficiente o sangue pelo corpo. Ao fazer contrações com menos força, permite que o sangue volte aos pulmões e gere o acúmulo de líquido na região, criando o que chamamos de edema pulmonar. O organismo então reage com a tosse intermitente na tentativa de eliminar o excesso de fluido.
De olho nos sinais
Se essa tosse persistente estiver acompanhada de outros sintomas é essencial procurar avaliação médica para o diagnóstico e tratamento adequados. A tosse cardíaca pode se manifestar simultaneamente a sensação do peito borbulhar, com um som de assobio dos pulmões, respiração forte e chiado intenso.
É possível também surgirem outros sinais, como dor no peito, falta de ar, produção de escarro com sangue, fadiga e fraqueza, retenção de líquidos e inchaços nas pernas, tornozelos e pés, dispneia noturna paroxística (acordar no meio da noite, ofegar e tossir), batimentos cardíacos rápidos ou irregulares e aumento da necessidade de urinar.
Tossir pode interromper um ataque cardíaco?
Talvez você já tenha se deparado com algum texto no Whatsapp ou nas redes sociais sugerindo que tossir de forma repetida e vigorosa ajuda o coração a recuperar o ritmo, fazendo com que a pessoa que está infartando ganhe tempo para chegar até o hospital.
Cuidado! Não há evidências científicas que comprovem essa afirmação. A ideia de que a tosse possa salvar uma vida é um mito que tem circulado amplamente, mas sem respaldo da comunidade médica.
O que de fato acontece
O ato de tossir pode ser utilizado e é efetivo quando ocorre o chamado efeito vagal, ou seja, uma redução dos batimentos cardíacos e queda da pressão arterial. Isso acontece, por exemplo, na coleta de sangue. No ato da retirada, algumas pessoas sentem mal estar, com sensação de desmaio, em decorrência do efeito vagal. Nesse momento, tossir ajudar a normalizar os batimentos cardíacos, além de melhorar a pressão.
Isso porque ao tossir, alteramos a pressão intratorácica (aquela que envolve os pulmões), afetando o fluxo sanguíneo que vai para o coração. Há também uma ativação no sistema nervoso, especialmente o sistema nervoso parassimpático (vagal), que liga o coração, os pulmões e o abdômen ao cérebro. Quando o efeito é estimulado, ocorre um impacto no sistema elétrico do coração. Mudanças sutis no fluxo sanguíneo e nesse sistema que podem auxiliar na melhora de alguns casos de arritmias.
Durante um infarto, porém, o fornecimento de sangue ao músculo cardíaco é interrompido na artéria coronária, geralmente devido à formação de coágulos. Nessas situações, há predomínio do efeito vagal, com redução da frequência cardíaca. No entanto, o estímulo dado pela tosse não é suficiente para reverter esse quadro. Pelo contrário! Pode agravar o cenário e atrasar o atendimento.
Em casos de infarto, como o fluxo sanguíneo para o coração é bloqueado, as chances de danos ao músculo cardíaco são altas. Por isso, a recomendação é, ao primeiro sinal, procurar o serviço de emergência o mais breve possível. Quanto mais rápido o diagnóstico e o início de tratamento, menores as probabilidades de danos e sequelas.
Quando a tosse deve ser sinal de preocupação
A recomendação é avaliar a frequência da tosse e os sintomas associados. Se algo está causando irritação nos pulmões ou o organismo está tentando se livrar de um corpo estranho preso no muco, ela tende a parar assim que o fator irritante ou a infecção desaparecer.
No caso da tosse persistente, como vimos, é outra questão. Nesses quadros, é essencial buscar um especialista para uma avaliação cardiopulmonar. Só assim será possível um diagnóstico preciso para o início do tratamento, que varia dependendo da causa.