Coração e menopausa

6 mudanças no coração que ocorrem com a chegada da menopausa

 

A menopausa é uma fase natural na vida das mulheres, marcada pelo fim do ciclo menstrual e uma transição hormonal que leva a diferentes manifestações físicas e psíquicas. Esse processo, que geralmente ocorre entre os 45 e 55 anos, provoca uma série de modificações no corpo feminino, inclusive envolvendo o funcionamento e a saúde do coração.

 

As alterações fisiológicas associadas ao período começam ocorrer alguns anos antes da última menstruação. Entre os sinais mais comuns estão os calores intensos e repentinos (os fogachos), insônia, suores noturnos, redução da libido, diminuição da lubrificação vaginal e dor durante o ato sexual, cansaço, irritabilidade, ansiedade e depressão.

 

Entretanto, é preciso dar atenção também a outros indícios, em especial no caso de mudanças que interferem no sistema cardiovascular. E isso muito tem a ver com a redução dos níveis de estrógeno (ou estrogênio) no organismo.

 

Alterações hormonais e seus efeitos

Por natureza, o corpo feminino tem uma grande vantagem quando o assunto é o risco de doenças cardiovasculares. As mulheres, durante seu período fértil, contam com os efeitos protetores do estrógeno, hormônio que desempenha papel crucial na manutenção dos vasos sanguíneos, ajudando a manter a elasticidade das artérias e a regular os níveis de colesterol.

 

Estudos apontam que a substância é uma espécie de guardiã do endotélio, um tapete celular que reveste o interior dos vasos sanguíneos. Sem a substância essa estrutura tende a ficar mais vulnerável a lesões e se contrair excessivamente. O estrogênio estimula assim a dilatação dos vasos e o fluxo sanguíneo para o músculo do coração através das artérias coronárias.

 

Quando ocorre a parada definitiva da menstruação, resultante da perda da atividade folicular ovariana, a mulher passa a não contar mais com a proteção. A partir dessa fase fica, portanto, mais suscetível ao risco de problemas cardíacos, como a doença arterial coronária e a possibilidade do infarto do miocárdio.

 

Riscos de complicações cardiovasculares

A queda na concentração do estrógeno e as mudanças trazidas com a chegada da menopausa interferem ainda em diversos fatores de risco para as questões cardiovasculares, como diabetes, pressão arterial, circunferência abdominal e controle de peso, além de outros pontos relacionados ao estilo de vida. Vejamos alguns deles:

 

  1. Aumento do colesterol ruim

Com a diminuição do estrogênio, ocorrem alterações no colesterol e nas gorduras presentes no sangue, elevando os riscos de ataque ou complicações cardíacas. Há uma tendência para o aumento dos triglicerídeos e colesterol LDL (o chamado colesterol “ruim”) e a redução do HDL (o “bom” colesterol), contribuindo para a formação de placas nas artérias.

 

Esse processo, conhecido como aterosclerose, pode levar à doença arterial coronariana, quadro em que as artérias que irrigam o coração ficam mais estreitas ou bloqueadas, aumentando o risco de infarto.

 

  1. Aceleração da frequência cardíaca

É possível que as mudanças hormonais gerem um aumento no ritmo dos batimentos do coração. As palpitações que ocorrem na menopausa são, em geral, descritas como batimentos mais intensos, acelerados e descompassados, que ocorrem com ou sem tontura e vertigem.

 

Elas podem ser apenas uma resposta normal do organismo e desaparecem com o tempo, não sendo motivo de preocupação. Contudo, em alguns casos, são o indício de uma doença cardíaca subjacente mais grave que não foi previamente diagnosticada, porém que agora está apresentando sinais evidentes. Entre elas a arritmia (a exemplo da fibrilação atrial), anormalidade na válvula do coração, insuficiência cardíaca ou cardiomiopatia.

 

  1. Surgimento do diabetes

Quando as mulheres chegam à menopausa fica mais difícil controlar a glicemia, ou seja, o nível de açúcar no sangue. Isso porque muitas se tornam mais resistentes à insulina, hormônio necessário para converter o açúcar no sangue em combustível para as atividades do organismo ou para serem armazenadas como reserva, em forma de gordura. Como resultado, passam a ser mais propensas a se tornarem pré-diabéticas ou diabéticas.

 

  1. Alta da pressão sanguínea

Quando os níveis de estrógeno diminuem, o coração e os vasos sanguíneos passam a ficar mais rígidos, o que interfere também na pressão arterial, que tende a subir. Uma pressão elevada gera tensão adicional ao coração. Em casos de predisposição ou falta de cuidados e acompanhamento corretos, o quadro pode evoluir para uma hipertensão.

 

  1. Impacto metabólico: ganho de peso e aumento da circunferência abdominal

A menopausa está associada ainda com mudanças no metabolismo. Isso porque o estrogênio atua no músculo, fígado e células pancreáticas produtoras de insulina. Um dos seus papéis sobre o tecido gorduroso é o de prevenir o acúmulo de gordura e inflamações.

 

Quando a mulher entra no período da perimenopausa (fase que antecede a menopausa) e os níveis do hormônio diminuem, ocorre por consequência uma alteração no equilíbrio metabólico: uma diminuição do metabolismo e do gasto energético, além de alterações de hormônios da fome e saciedade.

 

Crescem, por essa razão, as chances do aumento de peso e da deposição de gordura na região abdominal, assim como do surgimento da síndrome metabólica, condição que inclui, além do excesso de gordura corporal ao redor da cintura, hipertensão, altos níveis de açúcar no sangue e níveis anormais de colesterol ou triglicérides – fatores que contribuem para o risco cardiovascular.

 

  1. Maior incidência de inflamações e estresse oxidativo

Outro fator a ser considerado é o aumento da inflamação e do estresse oxidativo durante a menopausa. Essas condições podem danificar as células e os tecidos do coração, contribuindo para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A inflamação crônica pode acelerar a aterosclerose, enquanto o estresse oxidativo pode danificar o DNA das células cardíacas e dos vasos sanguíneos.

 

Menopausa precoce

Não há uma idade específica para a mulher entrar na menopausa. Cada uma tem a sua própria programação genética. No entanto, se isso ocorre antes dos 40 anos, recebe o nome menopausa precoce. É uma situação rara, que afeta apenas cerca de 1% da população feminina.

 

Entre suas principais causas estão: fatores genéticos, estilo de vida e fatores ambientais (como fumar ou baixo peso corporal), condições autoimunes (entre elas o lúpus), tratamentos médicos (quimioterapia, por exemplo), lesões ou cirurgias que envolvem a remoção dos ovários. Nos casos de menopausa precoce as mulheres ficam expostas aos mesmos riscos já apontados para as doenças cardiovasculares.

 

Há como prevenir os possíveis danos?

Apesar de todos esses desafios, há várias medidas que podem ser tomadas para proteger o coração durante e após a entrada na menopausa. Manter hábitos e um estilo de vida saudável, por exemplo, é fundamental. Isso inclui não fumar (ou deixar de fumar) e adotar uma dieta equilibrada rica em frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis, além de evitar o consumo excessivo de sal e açúcar.

 

A prática de atividades físicas regulares é igualmente importante, pois ajuda a controlar o peso, a pressão arterial e os níveis de colesterol. Além disso, o gerenciamento do estresse através de técnicas de relaxamento, como yoga e meditação, pode reduzir o impacto negativo no sistema cardiovascular.

 

Por fim, é crucial realizar check-ups regulares para monitorar a saúde cardíaca e detectar precocemente qualquer problema. Em alguns casos, a terapia de reposição hormonal (TRH) pode ser considerada para aliviar os sintomas da menopausa e proteger o coração, mas essa decisão deve ser tomada cuidadosamente, considerando os riscos e benefícios individuais.

 

Recomendações

Reforçando que as alterações fisiológicas associadas à menopausa começam a ocorrer antes da última menstruação e não de uma hora para outra. É possível que os sintomas relacionados à baixa produção de estrógeno comecem a aparecer meses ou até anos antes.

 

Por isso, por volta dos 40 anos, a indicação é de consultas anuais com um médico cardiologista (ou de acordo com a intensidade dos fatores de risco). Depois dos 50 (ou na menopausa propriamente) passa a ser indispensável fazer uma avaliação, no mínimo, uma vez ao ano.

 

Em quadros com agravantes, a visita ao especialista deve ser realizada a cada quatro ou seis meses – ou segundo orientação médica. A conscientização e a prevenção são fundamentais para manter o coração forte e saudável durante essa fase natural da vida da mulher.