A suplementação alimentar traz riscos à saúde do coração?
A resposta é sim, traz riscos, e não são poucos! Apesar de os suplementos alimentares estarem disponíveis para compra – na maioria dos casos sem receita – em diversos estabelecimentos comerciais, sua inserção na dieta deve ser cuidadosa e, principalmente, orientada.
Sejam eles colágeno, creatina, ômega 3, ferro, cálcio, antioxidantes, probióticos, termogênicos, multivitamínicos… a ingestão desses produtos de forma inadequada, sem supervisão ou prescrição de um especialista pode, além de causar um possível desperdício de dinheiro, ser prejudicial e gerar danos para a saúde cardiovascular.
Entretanto, antes de falarmos dos problemas provocados é preciso deixar claro que existem vários tipos de suplementos, incluindo vitaminas, minerais, ervas, extratos de plantas e outros compostos, que têm efeitos diferentes no corpo – e também variam de pessoa para pessoa. Os benefícios, assim como os riscos, estão relacionados à substância ou ao microrganismo fornecido.
O que são e para que servem os suplementos nutricionais e vitamínicos?
De acordo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, suplementos alimentares não são medicamentos e, por isso, não servem para tratar, prevenir ou curar doenças. Sua finalidade é fornecer nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos em complemento à alimentação.
São geralmente recomendados para indivíduos que apresentam deficiências ou carências de nutrientes, dificuldades de absorção, restrições dietéticas, condições de saúde específicas ou ainda pelo aumento da demanda de determinado composto devido a certas circunstâncias, como uma gravidez ou o envelhecimento. Há também uma tendência de suplementação entre aqueles que buscam ganhar massa muscular ou perder peso.
Dentre os tipos mais comuns, podemos citar: vitaminas (a exemplo da C, D, B12 e os multivitamínicos), minerais (como magnésio, ferro e cálcio), proteínas (produtos à base de soro de leite, caseína, soja ou outras fontes), ácidos graxos (isso inclui suplementos de óleo de peixe que contém ômega-3), aminoácidos (entre eles a creatina), hormônios (a melatonina é um deles), fibras, ervas e extratos de plantas. São produtos encontrados em diferentes formas, como cápsulas, comprimidos, em pó ou líquido.
Sinais de alerta
O uso inadequado ou em excesso de suplementos alimentares pode potencialmente colocar o coração e a saúde em risco por diversas razões:
– Estimulantes: os termogênicos, em especial aqueles que contêm estimulantes como cafeína, guaraná ou outros ingredientes ativos, precisam ser tomados com cautela, uma vez que estimulam o metabolismo e podem aumentar a frequência cardíaca e a pressão arterial. A ingestão indiscriminada e sem orientação desses produtos chega a levar a palpitações cardíacas, arritmias e hipertensão.
– Efeitos hemorrágicos: alguns suplementos, como o óleo de peixe em doses muito elevadas, tendem a afinar o sangue e aumentar o risco de sangramentos. Isso pode ser perigoso, principalmente, para pessoas que já estão tomando medicamentos anticoagulantes.
– Nutrientes além do necessário: o uso de suplementos vitamínicos e minerais pode levar a níveis excedentes de nutrientes no organismo e provocar problemas de saúde. Por exemplo: o excesso de ferro pode ser tóxico para o coração e outros órgãos; altos níveis de vitamina E são capazes de elevar o risco de insuficiência cardíaca e hemorragia; com o uso de suplementos de carboidratos é possível aumentar a resistência insulínica e alterar padrões de glicemia de diabéticos.
Uma pesquisa divulgada por especialistas da Suíça revela que os suplementos de cálcio também aumentam o risco de ataque cardíaco, efeito parecido, inclusive, com o provocado pelo excesso de vitamina D.
– Hormônios com múltiplas atuações: outra substância amplamente vendida como suplemento é a melatonina, sobretudo por sua ação de indução do sono e atuação no processo de envelhecimento. Porém, novamente, é preciso atenção em especial por sua extensa interferência no organismo, uma vez que participa da regulação do metabolismo e interage com diversos sistemas do corpo, como o cardiovascular, imunológico, reprodutor e o nervoso.
– Interações perigosas: alguns suplementos podem ainda interagir com medicamentos de uso contínuo, afetando sua eficácia ou causando efeitos colaterais adversos. Isso é particularmente importante para pessoas que tomam remédios para questões cardiovasculares, como anticoagulantes, beta-bloqueadores ou estatinas.
– Grupos específicos: determinados grupos, como pacientes com fatores de risco ou doenças cardíacas pré-existentes, grávidas, lactantes, crianças e idosos têm necessidades nutricionais específicas e podem estar mais vulneráveis aos riscos associados à suplementação inadequada.
Efeitos adversos
Os potenciais efeitos de uma suplementação sem critérios e mal feita não param por aí. A lista de possíveis consequências é extensa: intoxicação, sobrecarga de órgãos responsáveis pelo metabolismo (como coração, fígado e rins), cálculo renal, dores de cabeça, fadiga, insônia, sonolência, tontura, náusea, ansiedade, irritabilidade, alergias, reações gastrointestinais, desenvolvimento de intolerância ou má absorção de nutrientes, danos musculares, entre outros.
Por outro lado…
O coração pode ter vantagens com o uso da suplementação. Porém, vale ressaltar que associar um benefício específico em razão do consumo de determinada substância não é uma missão simples. É preciso comprovação científica.
Muitos dos estudos realizados até hoje apontam que os suplementos não são eficazes ou necessários para tratar ou prevenir doenças cardiovasculares, especialmente em pessoas saudáveis. Por outro lado, algumas pesquisas indicam que a suplementação pode contribuir em certos aspectos que envolvem a saúde do órgão, dependendo do tipo de suplemento e das condições clínicas de cada pessoa.
Nesse sentido, um levantamento publicado no Journal of the American College of Cardiology (EUA) indica uma possível exceção: o ômega-3 ou as cápsulas de óleo de peixe. Esse tipo de ácido graxo, encontrado em frutos do mar e peixes mais gordurosos como salmão, atum e sardinha, tem sido apontado como um aliado do coração por lubrificar as artérias (inibindo a formação de placas), ter propriedades anti-inflamatórias e atuar na prevenção ou tratamento de pressão alta, diabetes e arritmias.
Para isso, duas porções de peixe por semana no geral são suficientes. No caso de indivíduos com alguma condição especial (a exemplo da doença arterial coronariana) ou que não ingerem ou absorvem a quantidade necessária de ômega-3, os suplementos podem ser úteis.
Recomendações
A suplementação, como o próprio nome diz, não é uma substituição. Ou seja, os suplementos não devem dar lugar aos alimentos naturalmente ricos nessas substâncias. São eles a melhor fonte de nutrientes que organismo – e o coração – precisa.
O uso desses produtos no lugar das refeições gera monotonia no consumo alimentar e possíveis deficiências nutricionais (de itens que o suplemento não fornece) ou ainda dificuldade em absorver nutrientes por excesso de outros que possuem mesmo local de absorção (os nutrientes podem competir entre si).
Portanto, é fundamental que qualquer decisão a respeito dos suplementos seja tomada com base na orientação de um nutricionista ou médico. A avaliação de um especialista permite verificar se realmente é preciso incluir a suplementação na dieta, qual a dosagem apropriada e se isso é seguro.