Você sente seu coração acelerar quando faz exercícios físicos?
Ao praticar algumas atividades físicas você já deve ter notado o seu coração, durante o exercício, começar a bater mais rápido. Seja em um jogo de futebol, uma aula ou treino mais vigoroso na academia, um passeio de bicicleta ou até pulando corda em casa, certos esforços podem provocar aquela sensação de “o coração estar saindo pela boca”. Mas você já se perguntou se isso é normal ou pode trazer algum risco para a saúde do órgão?
Por que o coração passa a bater mais depressa?
Atividades aeróbicas e séries de exercícios intensas, constantes e com repetições podem exigir um trabalho extra do coração no bombeamento de sangue e, assim, estimular a aceleração de seu ritmo. Trata-se de uma resposta fisiológica do corpo para atender à maior demanda de oxigênio e nutrientes pelos músculos que estão sendo exercitados.
A adrenalina e outros hormônios liberados durante a prática esportiva também contribuem para que o sintoma se manifeste. Ou seja, um cenário teoricamente normal, que não precisa ser motivo de preocupação.
Entretanto, se o aumento da frequência cardíaca (isto é, a quantidade de batimentos do coração por minuto/bpm) gerar incômodos, outros sinais simultaneamente ou persistir por muito tempo após o fim do exercício, é importante checar o que está acontecendo. Vale destacar ainda que, apesar das particularidades de cada organismo, há um limite considerado seguro para essa aceleração dos pulsos do coração quando estamos em meio a uma atividade.
Como saber se meu coração acelerou demais?
Como referência, em condições normais de saúde e sem estímulos, a frequência cardíaca de um adulto fica em torno 60 a 80 batimentos por minuto. Esse valor tende a subir temporariamente dependendo do contexto e das condições momentâneas.
Por exemplo, durante práticas esportivas, em situações de estresse e emoções intensas (como ansiedade, medo ou excitação), quadros de febre e até pelo consumo de estimulantes (entre eles cafeína, nicotina e alguns medicamentos). Quando os números são superiores a 100 bpm, o quadro é chamado de taquicardia.
Um cálculo importante
Para um indivíduo sem doenças ou disfunções e um coração saudável adotamos, de modo geral, uma conta básica que aponta o valor máximo que o coração deve bater por minuto durante a prática de atividades físicas: basta subtrair a idade de 220 (220 (batimentos cardíacos) – idade = X (valor máximo que o coração deve bater por minuto durante o exercício).
Uma vez conhecida a frequência cardíaca máxima é possível então estabelecer a zona alvo de frequência, ou seja, o nível no qual seu coração será exercitado e condicionado, mas sem excessos ou riscos.
De acordo com a Associação Americana do Coração, para uma prática com intensidade moderada, os batimentos devem ficar entre 50% e 70% de sua frequência cardíaca máxima; já para uma prática com intensidade vigorosa, o valor passa a ser entre 70% a 85% do seu ritmo cardíaco máximo.
Tendo como exemplo uma pessoa de 30 anos, a frequência cardíaca máxima estimada é 190 bpm. Já a frequência alvo para exercícios de intensidade moderada seria aproximadamente 50-70% dessa máxima, ou seja, entre 95 e 133 bpm. Portanto, o ritmo dos batimentos nos oferece assim uma visão objetiva da intensidade do exercício. Por via de regra, quanto maior o ritmo cardíaco durante a atividade física, maior será sua intensidade.
Atenção também aos sinais do corpo
Entretanto, muito além dos números, é fundamental estar ligado aos indícios apontados pelo corpo, que podem servir de alerta e nos ajudará a compreender a intensidade da prática e como o esforço é percebido pelo organismo.
Entre as pistas de uma intensidade de nível moderado, podemos citar: respiração acelerada, mas não sem fôlego, suor leve após cerca de 10 minutos de atividade e a possibilidade de seguir uma conversa. Quando trabalhamos de forma mais vigorosa, a respiração passa a ser profunda e rápida, o suor surge após poucos minutos de prática e não conseguimos dizer mais do que algumas palavras sem uma pausa para respirar.
Quando há riscos para a saúde?
Desta forma, tanto o organismo, por meio dos sintomas, quanto os números podem revelar uma prática esportiva exagerada e excessiva para o corpo – e para o coração – ou ainda alguma disfunção ou problema cardiovascular.
Após a interrupção da atividade física, o suor diminui, a velocidade da respiração tende a reduzir, os músculos já não exigem a mesma quantidade de oxigênio e nutrientes e, apesar do nível de adrenalina no corpo permanecer alto por um período, deve começar a cair dentro de alguns minutos, o que faz com que a frequência cardíaca retorne ao seu ritmo normal. Se isso não ocorre, possivelmente há algo errado acontecendo.
Outro ponto: mais de 200 bpm durante o exercício pode ser um sinal de alerta. Se somado a isso, ainda surgirem sintomas como: falta de ar, dor no peito e tontura, fadiga ou a sensação de cansaço extremo, especialmente se isso se manifesta de forma frequente, é importante realizar uma avaliação médica.
Portanto, a ocorrência da taquicardia durante as atividades físicas, por si só, quando passageira, não indica um problema. Os potenciais riscos surgem, em especial, quando os valores são altos durante o exercício (ou em repouso) e se mantém persistentemente elevados.
Complicações mais comuns do exagero na intensidade
À medida que a prática acontece de maneira exagerada periodicamente e sem a devida recuperação do corpo, gera estresse físico extremo e uma sobrecarga cardíaca, exigindo do coração adaptações que podem levar a uma remodelação do órgão ou de seu funcionamento.
Entre principais as complicações, estão: dificuldades para dormir ou distúrbios do sono, oscilações de humor ou irritabilidade, fadiga e cansaço, esgotamento, desidratação, dores musculares, elevações transitórias na pressão arterial (que se não monitoradas podem levar a hipertensão), lesões cardíacas e distúrbios no ritmo dos batimentos, entre outros malefícios.
Pesquisas apontam que anos de treinamento de resistência intenso podem levar a consequências adversas em longo prazo, incluindo fibrose miocárdica, fibrilação atrial, uma forma adquirida de cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito, arritmias ventriculares e aterosclerose coronária (calcificação da artéria coronária).
O exercício de alta intensidade ainda eleva o risco de parada cardíaca súbita ou morte cardíaca súbita em indivíduos com doenças cardiovasculares subjacentes, em especial para aqueles com fatores de risco associados, histórico de cardiomiopatia hipertrófica ou doença coronariana.
Problemas cardiovasculares que provocam a aceleração do coração
Como mencionado anteriormente, em alguns casos, essas alterações, porém, não ocorrem por excesso de esforço ou falta de preparo, mas por outras questões de saúde, que vão desde certas condições cardiológicas com as quais nascemos, sendo elas genéticas ou não, ou em decorrência de quadros que se desenvolvem ou surgem ao longo da vida.
Entre elas, podemos citar: anemia, ansiedade e estresse crônico, transtornos alimentares, apneia, disfunção da glândula tireoide, desequilíbrios eletrolíticos, pressão alta, doença arterial coronariana, doenças do músculo cardíaco, inflamações no coração (endocardite, miocardite e pericardite, por exemplo), infarto do miocárdio, válvulas cardíacas anormais (valvopatias), cirurgia cardíaca prévia, insuficiência cardíaca e cardiomiopatias.
Recomendações
A realização adequada de atividades físicas rotineiramente promove o fortalecimento muscular, a melhora do condicionamento cardiorrespiratório, auxilia no controle da obesidade, pressão, colesterol e diabetes, reduz o estresse, ajuda na qualidade do sono, retarda ou previne o aparecimento de problemas, como a doença arterial coronária, entre outros benefícios.
No entanto, tudo deve ser feito com equilíbrio e cuidado. Exercitar-se com a intensidade correta possibilita tirar o máximo proveito da atividade. O uso de monitores de frequência cardíaca (como os smartwatches/relógios inteligentes) pode ser útil para nos manter dentro de uma faixa segura e apropriada de bpm, de acordo com as características de cada praticante.
Vale salientar ainda que qualquer pessoa que inicie ou mantenha um programa de exercícios deve realizar avaliações médicas periódicas, inclusive para checar como anda a saúde do coração.
À medida que o órgão é exigido, vai reagir. E se não estiver em boas condições, pode gerar consequências graves. Assim, reforço: é fundamental ter consciência do estado clínico, condicionamento físico e dos próprios limites para garantir que a atividade física seja eficaz e, principalmente, segura.