Diabetes Gestacional

Diabetes gestacional: entenda os riscos para mãe e para o bebê

 

O diabetes gestacional é uma condição que se caracteriza pela presença de altos níveis de glicose – ou açúcar – no sangue durante a gravidez. Isso em mulheres que não tinham diabetes previamente. De modo geral, surge no segundo ou terceiro trimestre da gestação e pode ter impactos significativos tanto na saúde da mãe quanto do bebê, durante e após o período gestacional.

 

Por que isso ocorre?

Em condições normais, quando a taxa de glicose sobe, células especiais liberam insulina, hormônio produzido pelo pâncreas, responsável por esse controle glicêmico. Dessa forma, o açúcar disponível passa a ser usado de acordo com as exigências do momento: a glicose pode ser utilizada como combustível para as atividades do corpo ou ficar armazenada como reserva, em forma de gordura.

 

Entretanto, no período da gestação, o corpo feminino passa por adaptações em órgãos e no metabolismo para garantir o desenvolvimento do feto. Durante os nove meses da gravidez ocorrem diversas alterações hormonais, algumas delas capazes de interferir na ação da insulina. E é aqui que está a causa do que chamamos de diabetes gestacional.

 

Quando o botão de alerta deve acender

A placenta começa a liberar substâncias químicas que podem levar à resistência à insulina, fazendo com que o corpo precise aumentar sua produção para manter os níveis de glicose dentro da normalidade. O problema é que muitas vezes todo esse esforço não é suficiente e sobra açúcar na corrente sanguínea (o que recebe o nome de hiperglicemia).

 

Portanto, quando o pâncreas materno não consegue dar conta da demanda, as taxas de açúcar ficam altas, resultando no desenvolvimento da condição. Por isso, mesmo sem nunca ter apresentado qualquer problema ou tendência ao diabetes, é possível que a mulher veja seus níveis de glicose irem para além do habitual na gravidez.

 

E o que isso quer dizer? A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera glicemia elevada e alerta de diabetes gestacional taxas acima de 92 mg/l de glicose no sangue (quando analisado em jejum).

 

Necessidades diferentes e um perigo em comum

Para ilustrar melhor a situação que gera a doença, podemos dizer que o processo funciona como uma queda de braços entre o corpo da mãe e o do bebê: de um lado o organismo da criança exige uma demanda alta de açúcar para garantir seu desenvolvimento. Do outro, o corpo da mãe responde com a liberação de insulina, na tentativa de controlar o excesso da substância no organismo. Cada um buscando garantir aquilo que precisa.

 

Consequências para a mãe

As mulheres com a condição têm um risco aumentado de apresentar a hipertensão gestacional (pressão alta na gravidez) e pré-eclâmpsia, condição potencialmente grave que combina hipertensão com danos a outros órgãos, como os rins.  Há ainda uma maior probabilidade do surgimento do pré-diabetes e do diabetes tipo 2 (quando o corpo não consegue utilizar adequadamente a insulina que produz) após o nascimento do bebê.

 

E com taxas elevadas de glicose no sangue, podem ocorrer várias alterações que interferem na saúde do coração e dos vasos sanguíneos futuramente. Para começar, o nível de colesterol aumenta, formando um número maior de placas de gordura nas artérias coronárias (responsáveis por irrigar o órgão), o que pode gerar obstrução.

 

Além disso, a quantidade excessiva de glicose no sangue favorece a produção de coágulos, outro fator capaz de provocar o bloqueio nas coronárias. O problema é que para manter-se em pleno funcionamento, o músculo cardíaco necessita de uma demanda constante de sangue.

 

Assim, a obstrução (parcial ou total) dessas artérias tem como consequência o surgimento de fatores de risco ou doenças cardiovasculares, como insuficiência cardíaca, hipertensão arterial crônica, aneurisma da aorta, doença arterial coronariana e infarto do miocárdio. Caso o mesmo processo ocorra em outras artérias do corpo, o resultado pode ser um acidente vascular cerebral (AVC) ou a doença vascular periférica.

 

Complicações para o bebê

Já os filhos dessas mães com diabetes gestacional têm chances elevadas de complicações quando ainda estão dentro do útero ou após o nascimento. Além do aumento nos níveis de insulina no corpo da mulher, é possível que o mesmo aconteça com o feto, que passa a receber muita glicose por meio da placenta, o chamado hiperinsulinismo. O pâncreas do bebê acaba sobrecarregado. Apesar de todo seu esforço, não consegue liberar hormônio suficiente para transformar glicose em energia.

 

As sobras de açúcar então viram gordura e a criança passa a ganhar peso. Isso porque a insulina é uma substância anabólica, ou seja, promove o crescimento e hipertrofia. Seu excesso causa o desenvolvimento exagerado do corpo e dos órgãos, aumento da gordura e da distância entre os ombros do feto. São casos de bebês macrossômicos (a criança nasce pesando 4 kg ou mais), o que pode dificultar o parto e até aumentar as chances de lesões.

 

O quadro aumenta também o risco de queda dos níveis de açúcar na circulação do bebê ao nascer, a chamada hipoglicemia do recém-nascido. Isso pode ser explicado porque, durante a gestação, o feto permanece em um ambiente com taxas elevadas de açúcar. Seu pâncreas produz então muita insulina. Logo após o parto, quando deixa de receber tanto açúcar da mãe e seus níveis de insulina ainda continuam altos, ocorre uma queda brusca na glicose. A hipoglicemia no bebê é grave e pode levar a complicações, inclusive fatais.

 

Fetos de mães com diabetes na gestação têm ainda mais propensão a nascerem antes do tempo (prematuros) e, por isso, apresentarem problemas no sistema cardiovascular e respiratório logo após o parto, além do risco elevado do desenvolvimento de pressão alta, obesidade, diabetes tipo 2 e doenças do coração na vida adulta.

 

Pesquisa publicada no Canadian Medical Association Journal (setembro/2020) indica que filhos de mulheres que tiveram diabetes gestacional têm de duas a três vezes mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares nos primeiros 35 anos de vida.

 

O corpo apresenta sinais?

Geralmente, o diabetes gestacional não vem acompanhado de sintomas. Algumas pacientes relatam sede, vontade frequente de urinar e cansaço, questões facilmente confundidas ou tidas como normal no período. Por isso, é comum que a condição só seja detectada por meio dos exames de rotina – reforçando a importância da realização do pré-natal.

 

Fatores de risco

Apesar de poder se manifestar em qualquer gravidez, alguns fatores elevam as chances da doença. Entre os principais, podemos citar: histórico familiar de diabetes, diabetes gestacional em gravidez anterior, sobrepeso ou obesidade (incluindo ganhar muitos quilos na gestação), idade avançada, síndrome do ovário policístico, hipertensão arterial, triglicérides e colesterol altos, gestação múltipla (gêmeos) e até gravidez prévia de bebês grandes (com mais de 4 kg).

 

Mulheres que apresentavam, antes da gravidez, certa resistência à insulina também podem desenvolver o diabetes gestacional. E as que já tinham o diagnóstico de diabetes tipo 2 precisam de um acompanhamento próximo, pois existe a probabilidade de piora no quadro.

 

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico do diabetes gestacional é feito por meio de exames de sangue que medem os níveis de glicose. Um dos mais comuns é o teste oral de tolerância à glicose (TOTG). Uma vez detectado o problema, se torna necessário o monitoramento regular dos níveis de glicose no sangue e da pressão arterial, a adoção de uma dieta equilibrada e saudável, controle de peso e a prática de exercícios físicos regulares (seguindo orientações médicas).

 

Quando não é possível administrar a doença dessa forma, o uso de medicamentos e insulina pode ser necessário. Tudo vai depender da resposta da mulher ao tratamento e da gravidade do caso. O controle rigoroso da glicemia durante a gestação diminui ou evita riscos de complicações para a mãe e para o filho, inclusive das consequências no pós-parto.

 

Depois do nascimento, é importante manter a rotina de acompanhamento da saúde da mãe e da criança, além dos check-ups para avaliação da glicemia e demais precauções. Vale ressaltar ainda que o aleitamento materno pode reduzir a possibilidade do desenvolvimento de diabetes permanente no futuro.

 

E quando a gestante já tem diabetes?

Para a vida de uma futura mamãe que já convive com o diabetes, os cuidados não são muito diferentes. Contudo, as precauções devem ser ainda mais rigorosas para minimizar possíveis complicações, especialmente em relação taxa de glicose no sangue. É importante que essas gestações sejam planejadas a fim de ter o diabetes sob controle antes da gravidez.

 

É possível prevenir o diabetes gestacional?

Como vimos, o diabetes gestacional não afeta apenas a gravidez, mas também pode ter implicações duradouras na saúde cardiovascular da mulher e da criança. Por isso, embora não seja possível prevenir completamente, é importante tomar algumas medidas que podem ajudar a reduzir o risco do surgimento da condição.

 

A adoção de práticas saudáveis – entre elas manter um peso saudável antes e durante a gravidez, adotar uma dieta equilibrada e praticar exercícios físicos regularmente – e a realização de monitoramentos regulares com o acompanhamento médico durante o pré-natal são essenciais para reduzir esses riscos e promover a saúde em longo prazo.