Verdades e mitos sobre a pressão alta
Tire suas dúvidas sobre as principais questões que envolvem a doença
A hipertensão arterial (HA), também chamada de pressão alta, é uma doença considerada mundialmente um problema de saúde pública por conta da sua elevada incidência e dificuldade de controle. De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado no segundo semestre do ano passado, a condição afeta um em cada três adultos no mundo; no Brasil são mais de 50 milhões de hipertensos na faixa entre 30 e 79 anos.
A questão é ainda mais alarmante porque quase metade das pessoas com pressão alta não sabe que tem a doença ou então não recebe o tratamento adequado. Isso, em boa parte dos casos, por conta de falta de acesso a informação precisa e clara sobre sua gravidade e a ausência de um monitoramento regular da saúde.
Assim, muitos indivíduos não levam a pressão alta tão a sério como deveriam, negligenciando seus efeitos devastadores. Como resultado, boa parte das pessoas só descobre ou passa a controlar efetivamente o problema quando ocorre um evento relevante ou devastador. Por isso, a proposta aqui é esclarecer e desmistificar os principais pontos pertinentes ao assunto.
- A pressão normal é 12 x 8.
Verdade. A hipertensão é uma condição crônica caracterizada pelo aumento dos níveis da pressão sanguínea nas artérias – pressão máxima (sistólica/contração do coração) ou mínima (diastólica/relaxamento entre um batimento cardíaco e outro).
Uma pressão considerada normal tem máxima de 12 e mínima de 8 (120 x 80 mmHg). Quadros de pré-hipertensão são definidos por uma pressão sistólica entre 130 e 139 mmHg e diastólica entre 85 e 89 mmHg. O diagnóstico de hipertensão é dado quando os números chegam e permanecem em 14 por 9 ou mais (140 x 90 mm Hg).
- A hipertensão atinge apenas adultos.
Mito. A pressão alta não poupa ninguém, e isso inclui crianças e adolescentes. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a estimativa é que a prevalência de hipertensos na população pediátrica varie de 3% a 15%. E os números estão em crescimento ao longo dos últimos anos, particularmente devido ao aumento entre o público jovem de indivíduos com excesso de peso e obesidade.
Os critérios de classificação no caso das crianças até os 13 anos se baseiam em tabelas obtidas a partir da média dos níveis de pressão apresentados por milhares de indivíduos, ou seja, usando a comparação. Desta forma, é considerado hipertensão quando uma criança apresenta pressão máxima (sistólica) ou mínima (diastólica) acima de 95% em relação as outras do mesmo sexo, idade e altura.
Quando esses níveis ficam na faixa dos 90% a 95%, classifica-se como pré-hipertensão. Abaixo de 90% indica pressão arterial normal. Após os 13 anos, a classificação considerada é a mesma dos adultos (já descrita acima).
- Uma pressão alta não tratada cedo gera consequências ao longo da vida.
Verdade. Pesquisas indicam que a elevação da pressão arterial na infância e adolescência representa um fator de risco para que a enfermidade se manifeste ou se agrave mais tarde, na vida adulta. Por se tratar de uma questão crônico-degenerativa, com o tempo e a falta dos cuidados necessários, pode danificar os vasos sanguíneos e provocar lesões graves no coração, cérebro, rins, membros e outras artérias do corpo.
- A hipertensão é um fator de risco para outras doenças que afetam o coração.
Verdade. À medida que a pressão aumenta, crescem os riscos à saúde. Em quadros de hipertensão, o coração passa exercer um esforço maior do que o normal na distribuição do sangue. Há assim uma sobrecarga no sistema cardiovascular, para os rins (que precisam filtrar o sangue) e até para o cérebro. Se os níveis não forem controlados, os danos são perigosos.
Em longo prazo, a condição gera lesões na camada interna das artérias (endotélio), o que pode levar à sua ruptura, induzindo o surgimento da doença obstrutiva das artérias coronárias e das artérias periféricas, responsáveis pelo infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC).
Aumentam ainda os riscos de uma hipertrofia do ventrículo esquerdo, quadro que pode evoluir para uma insuficiência cardíaca e arritmias; dilatação da aorta, causando o aparecimento de aneurismas, além das consequências em outros órgãos, como os rins, com a ocorrência da doença renal crônica e da insuficiência renal.
- A alta na pressão é claramente percebida através de sintomas.
Mito. Muito pelo contrário. Para grande parte das pessoas, a hipertensão se manifesta de forma silenciosa, sem dar qualquer indício e, muitas vezes, leva anos para ser descoberta, até que provoque um evento sério, como um infarto ou AVC. Estima-se que apenas 10% dos hipertensos apresentem sinais, aspecto que acaba provocando o diagnóstico tardio e a baixa adesão da população ao tratamento.
Os sintomas só aparecem, geralmente, junto com as complicações, em especial durante uma crise hipertensiva. Nesses casos, os mais comuns são: dores de cabeça, na nuca e no peito, tontura, falta de ar, zumbido, visão embaçada, sangramento nasal, fraqueza e cansaço repentino, alterações no sono, inchaços, vômito e ritmo cardíaco anormal.
- A idade é uma das condições para aparecimento da hipertensão.
Verdade. A idade é considerada um dos principais fatores de risco para a HA e os dados confirmam que a incidência é maior conforme os anos vão passando. De acordo com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), a doença atinge mais de 60% dos idosos no Brasil.
O envelhecimento resulta em várias alterações estruturais e funcionais nas artérias. Essa combinação de mudanças tem reflexo no endurecimento dos vasos sanguíneos e a redução da complacência arterial (elasticidade das artérias). Com isso, tanto pressão arterial sistólica (PAS) como pressão arterial diastólica (PAD) aumentam com a idade.
Outro ponto a ser considerado refere-se as transformações enfrentadas pelos rins com o passar do tempo. A tendência é de um declínio na função renal, o que gera dificuldade do indivíduo em eliminar o sal. O órgão passa a apresentar sensibilidade à substância, provocando a vasoconstrição e uma maior resistência vascular. Isso se torna um ciclo vicioso, no qual a pressão elevada prejudica os rins e os rins contribuem para o aumento da pressão.
- Podemos nascer com pressão alta.
Verdade. Normalmente o fato está relacionado com anormalidades e malformações congênitas renais ou cardíacas. Além disso, bebês que apresentam peso baixo ao nascer (especialmente menos de 1,5 kg), prematuros (inferior a 32 semanas) ou que permaneceram internados em UTI Neonatal por tempo prolongado têm mais chances de desenvolver a hipertensão arterial sistêmica na infância.
A hipertensão entre os jovens pode ainda estar ligada com o histórico familiar: se os pais apresentam HA há possibilidade de 60% que seus filhos adquiram a doença ao longo da vida. Caso apenas um dos pais apresentem HA este índice cai para 25%.
- Hábitos mantidos ao longo da vida interferem na pressão e contribuem para o surgimento da hipertensão.
Verdade. Apesar da pressão alta ter forte relação com questões genéticas e com o envelhecimento, costumes e comportamentos mantidos ao longo da vida contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento ou agravamento da doença. A hipertensão está associada assim a uma série de fatores de risco modificáveis, ou seja, que podem ser alterados. No entanto, eles precisam de atenção permanente.
O consumo excessivo de sal e uma má alimentação (baseada em alimentos processados ou ultraprocessados, ricos em açúcar, gorduras saturada e trans e com baixa ingestão de frutas e vegetais), o hábito de fumar (inclusive cigarro eletrônico) e de ingerir bebidas alcoólicas são atitudes que, aliadas à falta de exercícios físicos, estresse, distúrbios do sono, sobrepeso e obesidade, quadros de pré-diabetes e diabetes, potencializam os riscos da condição.
- A hipertensão é mais comum em homens.
Mito. Registros da prevalência global de HA entre homens e mulheres aponta que o sexo não é um fator de risco determinante. Entretanto, as estimativas sugerem taxas de hipertensão mais elevadas para homens até os 50 anos e para mulheres a partir da sexta década da vida.
Entre o sexo feminino, é possível que o nível da pressão seja influenciado por situações típicas desse grupo, como o uso de contraceptivos hormonais, síndrome do ovário policístico, gestação e menopausa (quando ocorre a diminuição da produção do estrógeno).
- Basta retirar o excesso de sal da comida para a pressão normalizar.
Mito. O problema do consumo exagerado de sódio é a tendência no aumento da absorção de água pelos tecidos, o que gera uma sensação de sede, por conta da desidratação do organismo, fazendo com que o indivíduo beba mais água do que o normal. Com isso, o volume de sangue circulante será maior, elevando também a pressão.
O resultado, como dito anteriormente, é o aumento de trabalho do coração. Se essa atividade extra se torna recorrente pode gerar danos sérios e prejudicar seu desempenho, comprometendo a saúde de todo o sistema cardiovascular.
A SOCESP recomenda até 5 gramas de sal por dia ou uma colher de chá (2 gramas de sódio) – sem esquecer que o sal está presente em boa parte dos alimentos processados e industrializados. No entanto, não basta apenas diminuir o sal para garantir níveis de pressão normais. Tal atitude é benéfica, mas o quadro também depende de outras ações, como a prática de atividades físicas regulares e a adoção de uma alimentação balanceada, por exemplo.
- Se minha pressão atingir 14 x 9, significa que sou hipertenso.
Mito. Uma medida isolada com valores alterados não é suficiente para determinar um quadro de hipertensão arterial. Para o diagnóstico, recomenda-se uma confirmação feita pela média de três medições consecutivas (especialmente para excluir causas transitórias de elevação da pressão), com aparelho adequado e seguindo as orientações técnicas (estar em repouso, pernas descruzadas, sentado, braço estendido na altura do coração, entre outras).
Aqui vale destacar a existência do chamado “efeito do avental branco”, que ocorre quando um paciente tem pressão controlada no dia a dia mas, no consultório, ela sobe. Uma espécie de nervosismo que algumas pessoas sentem toda vez que vão medir a pressão em um ambiente médico. Em casos assim, as variações podem ultrapassar 20 mmHg de diferença para a pressão sistólica e 10 mmHg para a diastólica.
Para o diagnóstico é importante levar em conta ainda um levantamento minucioso do histórico familiar e clínico do paciente, exames físicos, análise de possíveis sintomas, além do resultado de alguns exames adicionais necessários para investigar as causas dessa variação.
- A hipertensão não tem cura.
Verdade. A pressão alta não tem cura, mas é passível de controle. Portanto, pacientes diagnosticados com hipertensão precisam monitorar a pressão arterial com regularidade para o resto da vida, assim como seguir todas as orientações passadas pelo médico, sejam elas a prescrição de medicamentos, ajustes na dieta, hábitos ou estilo de vida.
A aferição deve ser feita por todos, no mínimo, uma vez ao ano e com um profissional de saúde. Embora as pessoas possam medir sua própria pressão usando dispositivos automatizados, um especialista irá avaliar individualmente os riscos e as condições associadas.
Para aqueles que já têm o diagnóstico de pré-hipertensão ou hipertensão, a frequência varia de acordo com a necessidade de cada um, sendo estabelecida pelo médico que acompanha o caso. E quanto mais cedo se identifica uma alteração leve, mais fácil fica fazer um tratamento eficiente, que previna e evite consequências mais graves. Além disso, é imprescindível que, mesmo se sentindo bem após um período de tratamento e com os níveis normalizados, os cuidados sejam mantidos.